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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

VI – RESCALDO “The last but not the least”

POR MARES DANTES NAVEGADOS

6ª EDIÇÃO – MOÇAMBIQUE

VI – RESCALDO

“The last but not the least”
(Por último, mas não menos importante)

Tenho a honra de vos comunicar que a viagem não acabou na descrição do capítulo V. Creio mesmo que ela não acabará nunca. O que vimos, vivemos e sentimos, vai ficar impresso, direi mesmo, impregnado, na alma de cada um e, talvez, na alma de quem esteve à nossa volta a concorrer de forma dedicada e abnegada, para que este empreendimento fosse possível. Um pouco por isso, decidimos escrever esta memória, em jeito de crónica, além do roteiro de viagem que foi sendo divulgado, sobretudo em imagens, no momento em que ia acontecendo, e de outros escritos e reflexões que ainda que se seguirão. É uma forma clara de agradecermos a quantos colaboraram e não puderam ir, e de ilustrarmos o nosso e o seu trabalho.

No início desta crónica, na Introdução, o Capítulo I, a que chamámos “DEUS SABE DANÇAR”, expusemos claramente os objectivos principais desta viagem a Moçambique. E se tem objectivos, é lógico que deve ter avaliação, aliás, à imagem do que tem acontecido nas últimas viagens deste programa “Por mares dantes navegados”.

Ainda estávamos a percorrer o último troço de caminho, entre Lisboa e Fátima, e veio à baila o local e data para a dita avaliação. Para termos um ambiente mais intimista, procuramos neste evento evitar os locais mais oficiais. Foi oferecido um sítio, não só conveniente em termos de centralidade e condições, mas também implantado no meio de uma natureza soberba e bela, a casa do Luís Matias, em Arrimal – serra dos Candeeiros, a que ele graciosamente chama de “centro do mundo”. Ficou a nota da disponibilidade, e sem data, dado que pretendíamos integrar neste evento a presença do D. Diamantino que se deslocaria em breve a Portugal, mas ainda sem conhecimento da disponibilidade de agenda.

Logo na semana seguinte conseguiu ter-se a definição de todas estas questões, e marcou-se a data de 2 de Outubro para realizar a sessão de avaliação, muito enriquecida com a presença do nosso Bispo de Tete.

O tempo ajudou ao nosso esperado e estimulante encontro, que teve a presença de todos, repito, todos os participantes na viagem, apesar de ser uma segunda feira, e de alguns terem viajado de bem longe; designadamente, das regiões de Guimarães, Famalicão, Viseu, Tomar, Ourém, Fátima e Leiria; O D. Diamantino, de bem mais longe: de tete, Moçambique, tendo passado por Roma.

Para além dos 18 navegantes e o Bispo, tivemos a honra de poder contar ainda com a presença do pároco de Arrimal, Pe. Leonel Batista, da Rosário, responsável da agência de viagens que apoia em termos logísticos o programa “Por Mares Dantes Navegados”, do David Francisco, membro designado na Direcção da UASP, e duas convidadas de Viseu.

Do programa constava o momento de acolhimento, a celebração da Eucaristia, e o jantar, no decurso do qual faríamos a avaliação.

A casa, situada na meia encosta Este da Serra dos Candeeiros, mas do lado poente do grande vale em que se estende a urbe, com vista privilegiada sobre todo o vale e frente à imponente “serra da Lua”, reserva-se e isola-se no meio de luxuriosa vegetação, criando um Intra espaço natural que nos abona um sentimento de tranquilidade e isolamento, ao mesmo tempo aberto para uma exuberante vista. Dentro do perímetro, foi escolhido para nosso habitáculo naquelas horas, um gracioso e comprido logradouro aberto na lateral para uma lagoa, com quedas de água sobre umas fragas a desaguar na mesma, que em permanência nos brindaram em fundo, com o marulhar constante e repousante do precioso líquido. E um dos topos do logradouro, também aberto para a verde e fechada mata, já raiada com várias cores a anunciar o quadro outonal, serviu de maravilhoso fundo ao altar, mesa da primeira refeição do nosso encontro.

Por analogia ao maravilhoso espaço em que vivemos em Zóbuè – Tete, a “Fazenda da Esperança”, o companheiro Alfredo Monteiro haveria de batizar este espaço, no momento da avaliação, como “a Fazenda do Encontro”.

O manjar da segunda mesa havia sido encomendado em “Catering”, para nos furtarmos a trabalhos que nos dispersassem do foco do nosso encontro. A Teresa, o Alfredo e o anfitrião, os de mais longe, haviam chegado de véspera, e trataram de harmonizar e adequar o espaço aos objectivos do evento, desde logo, num espírito jovial e divertido, essencial ao ambiente do acolhimento e do entrosamento do grupo, aliás, na sequência dos vinte dias que, precisamente iniciados há um mês, havíamos sabido construir e manter. Os três preparámos e decorámos o espaço, onde improvisámos do lado sul, o local para a primeira grande refeição da tarde, a Eucaristia; e do lado norte, o espaço para o verdadeiro banquete que haveríamos de saborear a seguir. Mesa do altar decorada com verdura do local, as cadeiras dos celebrantes, as 24 cadeiras para os participantes, o órgão.

Do outro lado, mesas formando um rectângulo fechado, com igual número de lugares, colocando todos os comensais frente a frente numa verdadeira mesa fraterna. Ao fundo, junto à parede de pedra, as mesas de apoio para suportar os ingredientes constitutivos do banquete. Chamo-lhe assim, porque é o que melhor traduz o que ali nos disponibilizaram.

Pelas 16 horas começaram a chegar os participantes, numa esplendorosa tarde soalheira. O espaço interior foi acomodando a totalidade das viaturas, e foram sendo mostradas as instalações. No exterior da casa, no generoso alpendre e logradouro contíguo, de onde a citada e maravilhosa vista geral estava em contínuo debaixo de olho, fomos conversando e refrescando o esófago, sentados em cadeiras de baloiço, bancos de jardim ou à volta de uma extensa mesa de esplanada. E aqui começa a saga da brincadeira, se quiserem… a partida mor do encontro. Lembram-se da famosa Laurentina que tanto apreciámos em Moçambique? Pois bem… pelo tempo que quisemos, ela veio ter connosco ao Arrimal:

No dia anterior à noite, os 3 primeiros a chegar, tivemos tempo de preparar a partida. Encontrámos num supermercado latas pretas de boa cerveja da mesma cor, muito adequadas à brincadeira, porque muito parecidas com as latas da Laurentina (apesar de lá, bebermos em garrafa de 55 Cl). Fomos ao site da Laurentina, imprimimos o rótulo original, adequámos ao tamanho necessário, multiplicámos em word numa folha A4, e recortámos apenas o rótulo pelo seu contorno. Colámos com ajuste muito pormenorizado, apenas sobre a palavra ARGUS constante dos dois lados da lata, e transformámos esta cerveja na implacável LAURENTINA. Como é óbvio, o espanto e a admiração foi-se plasmando nos rostos dos que iam chegando e se consolavam sofregamente com as carícias da Laurentina que, nesta hora, apesar de falsa, tinha ainda bilhete de identidade verdadeiro. Choveram epítetos de admiração e perguntas de onde tinha comprado as ditas. “O segredo é a alma do negócio”. Toda a gente enfiou a carapuça, mesmo o Bispo. Só no final do jantar, por velado lamiré do Alfredo Monteiro, alguns companheiros se puseram a analisar detalhadamente a lata da cerveja para descobrir a marosca. Nem assim. Só quando finalmente cheguei à conclusão de que, afinal, era um imbatível falsificador, desvendei o espírito da coisa ao companheiro do lado, o Simão Pedro, depois de ter presenciado o seu fatal insucesso na minuciosa análise da lata; já desconfiava que era falsa, mas não conseguiu descobrir o truque. Quando sorrateiramente o demonstrei… ficou varado (como diz o povo do Norte, de onde ele também é – Trofa). O próprio D. Diamantino nem queria acreditar!!! Todos se sentiram enganados, com especial relevo para o Carlos que da lata que estava a consumir, só metade foi Laurentina, até ao desmascarar da coisa. A parte que não era, ficou lá.

Às 19 horas subimos ao sítio que tínhamos escolhido e iniciámos a concelebração da Eucaristia presidida por D. Diamantino, e concelebrada pelos Padres Armindo Janeiro, Simão Pedro e Leonel Batista, animada pelas 24 vozes e acompanhada pelo pequeno, mas moderno e poderoso Hammond. Logo aqui, relembrámos, agradecemos e pedimos, pelo muito do que vivemos no Moçambique do nosso coração. Foi também exibido, pelo próprio D. Diamantino, o que para mim é um enorme e imenso privilégio: neste local, foi a primeira vez que se celebrou uma Eucaristia, e presidida por um Bispo. Facto distinto para a memória deste sítio, já habituado ao serviço de muito acolhimento e partilha. Foi uma celebração bonita, e tão intimista, aliás na sequência de outras que este grupo teve a honra e privilégio de viver especificamente nesta viagem que aqui avaliamos.

Terminada a Eucaristia, passámos à secção seguinte, para degustar uma excelente e variada refeição. Lembrámos muitas histórias da nossa viagem, conversámos muito, sempre com esse tema central no desembocar de cada conversa. E no final, concentrámo-nos na avaliação formal. Cada um dos presentes teve oportunidade, e todos a exerceram, de partilhar as suas impressões e sentimentos. Desde logo, por diversos, foi lembrada a frase ouvida logo na primeira etapa da viagem, ainda em Tete, que alguém proferiu e foi praticamente anuída por unanimidade:

– “Mesmo que a viagem acabasse aqui, e fosse só isto, já teria valido a pena”.

Imaginem agora o que ainda vivemos depois disso. Nem é fácil de descrever a emoção, a alegria, a admiração, ou também a tristeza, constrangimento e pena por muitas situações que vimos e vivemos.

Não há dúvida de que todos, sem excepção, saímos daqui a sentir que a nossa viagem não só cumpriu os objectivos a que nos propusemos, como foram muito, imensamente e positivamente excedidos. Mais do que dever cumprido, sentimos gratidão para sempre. O prazer de termos aqui connosco D. Diamantino, grande, principal interveniente para este sucesso, enleva-nos e torna mais urgente ainda expressar essa gratidão.

Como gratidão lhe rendemos pela sessão de assinaturas, de autógrafos que aqui fez, para rubricar e colocar mensagens personalizadas nos livros da sua autoria com que nos brindou, e que guardamos como marcas fortes de locais onde vivemos, de gentes que conhecemos, de emoções que aprendemos.

E neste sentir, voltámos a lembrar todos os companheiros que nos difíceis anos de espera pela possibilidade da viagem, a viveram, e acompanharam connosco de variadíssimas maneiras o espírito desta incursão africana, nos ajudaram a angariar fundos, ajuda que levámos e distribuímos por todas as comunidades onde andámos e com quem convivemos. Não podemos esquecer que iniciámos o plano de viagem em 2018, e envolvemos muitas pessoas e comunidades no espírito deste empreendimento. Fizemos jantares concertos, concertos sem jantares, actividades diversas e em vários pontos do país, para angariar fundos para podermos apoiar com alguma coisa as comunidades que visitámos. E assim fizemos.

Aqui mesmo nesta sessão de avaliação e, depois de constatarmos uma necessidade transversal a todas as instituições que nos acolheram, decidimos avançar com um apoio pós viagem. Tem a ver com uma necessidade que em todo o lado constatámos, de falta de toalhas de rosto e banho que, ou eram insuficientes, ou estavam em fim de capacidade de utilização. Decidimos aqui fazer uma angariação, ainda complementada com o que fosse possível arranjar para além deste momento, e negociarmos com fornecedores um preço conveniente para fazermos uma aquisição e enviarmos este apoio em espécie, a ser distribuído por todas as casas que nos acolheram, designadamente na zona de Tete, de Inhambane e de Maputo.

O sucesso desta proposta da Isabel (as mulheres são sempre mais atentas a pormenores importantes), redundou na aquisição já efectuada, e entregue, para encaminhamento para Moçambique, de 800 toalhas, de boa qualidade (400 de rosto e 400 de banho).

A modesta descrição, deste majestoso périplo, foi organizada de forma mais ou menos cronológica, com mais destaque ao roteiro da viagem e a pormenores sensoriais emocionais e afectivos, e menos a questões de conteúdo que, afinal, são as mais importantes. Assim, servirá para pouco mais do que contar aos nossos amigos que não foram, por onde andámos e o que fizemos. E a nós, espero que sirva para revivermos com o máximo de pormenor esta maravilhosa experiência e, aí sim, cada um lhe colocará dentro o verdadeiro conteúdo, emanado dessa vivência interior experimentada por cada navegante.

E não podia terminar este itinerário descritivo sem mencionar com grande relevo, o papel central e fundamental do Padre Armindo Janeiro, o arquitecto e a alma da UASP desde os alicerces até à fundação e em todos os anos da sua existência; a alma e o arquitecto deste projecto, “Por Mares Dantes Navegados” e, especialmente, desta soberba concretização dele em Moçambique. Todas as realizações do projecto, que leva já 10 anos (haverão de ser celebrados), dão muito trabalho e envolvem muitas pessoas pelo mundo, mas esta, sem dúvida, excedeu em trabalho o que compensou em prazer e satisfação pelos seus “navegantes”. Igualmente destaco o inexcedível trabalho e permanente atenção da Isabel, uma espécie de grande mãe, onde sempre desagua o muito trabalho e até os lamentos que houver, e que como um radar vai rastreando com permanente atenção a todos os pormenores, mesmo os que ninguém mais vê. E ainda o incansável envolvimento, dedicação, entrega e total apoio do nosso admirado Bispo de Tete, D. Diamantino, do Padre Simão Pedro, do Padre Francisco, do Padre Tavares e do Padre Franice, que nada deixaram ao acaso para que nos sentíssemos verdadeiramente em casa. E sentimos.

A todos eles a nossa admiração, o nosso tributo e a nossa gratidão.

Finalmente, deste “Rescaldo” resumo e destaco:

  • O facto de conseguirmos reunir a totalidade dos participantes, mesmo vindo de lugares distantes;
  • A emoção com que nos juntámos, a cumprir ou a superar as expectativas que pusemos neste encontro;
  • A confirmação inequívoca de que a viagem excedeu em muito as expectativas individuais e coletivas que lhe havíamos colocado;
  • O termos tido a dita de contarmos neste encontro com a presença do Dom Diamantino;
  • A certeza de que esta viagem se perpetuará no íntimo e na emoção de cada navegante;
  • O termos constituído um verdadeiro grupo, com pessoas tão diferentes;
  • E termos confirmado a certeza de que, afinal, “Deus Sabe dançar”!

Estamos gratos. Muito gratos!

Luís Matias, ASDL

 

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2 thoughts on “VI – RESCALDO “The last but not the least”

  1. Olá, caros amigos e companheiros, saudações franciscanas de Paz e Bem
    Acabo de ler a última crónica da nossa “Viagem Missionária” a Moçambique. Que pena! Nas últimas semanas era uma leitura obrigatória, porque revivi momentos tão agradáveis naqueles 20 dias africanos. O estilo realista do cronista merece que se agreguem todas as crónicas, semanalmente publicadas, numa pequena brochura ilustrada com tão belas fotografias, para memória futura e património da UASP. Associo-me aos agradecimentos dados que o Luís Matias refere na sua última crónica vivida no ambiente natural do Arrimal, porque foi o cuidado e o enorme trabalho desenvolvido por essas personagens que nos proporcionaram viver com intensidade a ” Missão Moçambique.
    Conforme o prometido o meu pequeno texto sobre a realização de tão grande sonho já está pronto.
    Abraço amigo e fraterno
    Alfredo

    1. Obrigado Alfredo Monteiro. Foi fácil realizar este empreendimento de escrita, porque só descrevi parte do que vivi, e como vocês também viveram o mesmo e com o mesmo espírito, é fácil também reconhecerem-se na descrição. Sinto satisfação na vossa satisfação, e sinto-me premiado por leitores que não foram a Moçambique, me terem dito: “estou a ler e a viver aquilo como se lá estivesse”. Aguardamos o teu texto, esse sim, terá mais conteúdo.

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