No dia 4 de Outubro celebramos a festa de São Francisco de Assis, um dos santos mais populares da Igreja Católica. É recordado pela sua dedicação à pobreza, ao amor pelos animais e à Natureza. Sentiu o chamamento divino para “reconstruir” a Igreja com a radicalidade da fé e o amor a Jesus Cristo. E desse amor profundo amou também todas as criaturas. Entendeu a Natureza como “uma linguagem na qual Deus fala connosco” e olhou para todos os seres da Criação como irmãos! Um místico da Natureza, ecologista, pacifista, uma “Voz do nosso tempo”, talvez, “o mais encantador dos santos da Igreja Católica”!
Francisco pertenceu à burguesia italiana do século XIII. Fazia parte de uma família abastada, filho de um mercador urbano bem sucedido nos negócios. Terá nascido em 1181/82. Aprendeu francês e assim podia cantar, como gostava, canções populares francesas e acompanhar o pai a França nas viagens de negócios. Dotado de uma personalidade cativante e expansiva tornou-se um vendedor eficaz. Dizem os biógrafos que era um jovem encantador e amante da diversão, de festas e jantares…
Mas, chegou o tempo em que sentiu ardentemente que não era essa a vida que procurava. Foi o novo tempo de trilhar o caminho da sua conversão religiosa. E o momento alto foi o encontro com os leprosos! “Aquilo que antes era feio e repulsivo, causava-lhe agora prazer e alegria”. Encontrou a Paz! Sabemos que a lepra era uma doença fortemente contagiosa. Por isso, os leprosos vestiam-se de negro e mantinham-se distantes dos povoados. Eram socialmente excluídos. A contemplação da Paixão de Cristo perante o crucifixo teve, igualmente, um efeito profundo em Francisco. Chorava copiosamente e sentia o desejo de se unir mais a Jesus Cristo “nu e crucificado”. A grande luta interior que travou, levou-o a abandonar a casa da família. Vagueava sozinho pelas matas, cantando hinos a Deus.
Francisco de Assis que era, como vimos acima, de família abastada, sentiu-se chamado a viver na pobreza! Depressa cativou outros seguidores do Evangelho. Viver na radicalidade é viver primeiro aquilo que se anuncia. Dizia Francisco aos seus irmãos “vamos por todo o mundo exortar mais com o exemplo do que com as palavras”. Como disse, a propósito, o Papa Bento XVI “eram mestres com a palavra e testemunhas com o exemplo”. E em 1217, reunidos em Capítulo, já os frades menores eram milhares e Francisco enviou-os para as periferias de todo o mundo…
E assim, ao longo dos 800 anos já decorridos, desde a fundação da Ordem dos Frades Menores, os irmãos franciscanos continuam a aproximar os homens de Deus e a cuidar com zelo da nossa “Casa Comum”, como também nos exorta continuamente o Papa Francisco. O grito sofrido da Natureza pede-nos que assim seja. Os povos sentem, presentemente, as dramáticas e dolorosas consequências. Na Ásia, África, América e até na Europa Central temos ventos ciclónicos, tempestades e enxurradas, devastando, arrastando e afogando pessoas, animais e o património de vidas de trabalho nas águas revoltas e sujas dos rios à solta que invadem cidades, vilas e aldeias. Em Portugal, em Outubro de 2017 e em Setembro do ano em curso, resultado das grandes alterações climáticas, vivemos o inferno dos grandes incêndios com iguais consequências dramáticas e dolorosas… Se os homens continuarem a provocar a Natureza, alterando a face da Terra, teremos sempre a trágica resposta dos fenómenos extremos, com violência, destruição e mortes…
Estou certo que a melhor maneira de concluir este texto, depois do que acima foi dito, é socorrer-me das palavras do Papa Francisco, em louvor de São Francisco de Assis, que passo a transcrever: “… Este santo de amor fraterno, da simplicidade e da alegria que me inspirou a escrever a encíclica Laudato Si, volta a inspirar-me a dedicar essa nova encíclica à fraternidade e à amizade social (Todos Irmãos). Com efeito, São Francisco que se sentia irmão do Sol, do mar e do vento, sentia-se ainda mais unido aos que eram da sua própria carne. Semeou Paz por toda a parte e andou juntou dos pobres, abandonados, doentes, descartados, enfim dos últimos”.
Alfredo Monteiro (AAAFranciscanos)
Muito bem Alfredo, divulgar a nobre MISSÃO do Poverello na sua ligação à Terra e aos seus irmãos, no louvor ao irmão Sol, no amansar da fúria do irmão lobo, é sempre de elogiar. Abraço, JG
Obrigado meu Amigo, por, no curto texto, dizeres tanto. Curiosamente, tenho a sensação de que Francisco, no seu posicionamento e ternura pela criação, invade, de alguma forma, o sentimento de todos, fazendo-se irmão de todos, e todos nos sentimos de alguma forma Franciscanos. Talvez tenha sido este apelo fundamental que levou o nosso Papa FRANCISCO, que é Jesuíta, não só a chamar-se FRANCISCO, mas a ser Franciscano inteiro, no que pensa, no que faz, e no que vive. Quando ele foi eleito Papa, lembro-me de ter visto um sugestivo cartoon que tinha a sua caricatura e uma sugestiva legenda: : “Ho, finalmente tenemos un Papa Cristiano”.