A diocese de Leiria-Fátima iniciou, neste ano pastoral, um caminho de transformação pastoral, em sintonia com o processo sinodal em curso, com o objetivo de implementar um novo estilo de vida comunitária ao serviço do Evangelho, nomeando párocos in solidum (dois a dois ou três a três) para várias paróquias, agrupadas em Unidades Pastorais, e promovendo a constituição de equipas de coordenação pastoral para a sua dinamização.
Com esta reorganização pastoral, que implica não só mudança de estruturas, mas sobretudo conversão pessoal e comunitária, se deseja, com a ajuda do Espírito Santo, corresponder melhor ao mandato do Senhor “Ide pelo mundo inteiro e proclamai o Evangelho” (Mc 16,15), discernindo os sinais dos tempos. Estes, lidos na fé, são oportunidades que o Ressuscitado oferece aos Seus discípulos para que, com criatividade e ousadia, proponham de novo a quem procura, a Boa Nova da misericórdia de Deus nosso Pai.
A Igreja, reunida em Sínodo, em busca de caminhos que possam deixar transparecer mais o projeto do Senhor, dá de si mesma um sinal novo, pela forma como os participantes se ouvem mutuamente e, juntos, se põem à escuta do Espírito Santo, quer no modo de acolher a Palavra de Deus quer na forma como é coordenado e estimulado o diálogo entre os presentes.
Neste sentido, também nós queremos caminhar: os padres/párocos, nomeados “in solidum”, vão trabalhar em conjunto, e as comunidades paroquiais, através da criação das Unidades Pastorais, são chamadas a viver experiências novas de comunhão, partilhando dons e carismas, formando equipas pastorais comuns e coordenando serviços para o bem do Povo Santo de Deus que peregrina na nossa Diocese.
De facto, trabalhar em equipa, participando na mesma missão que Cristo confiou à Sua Igreja, segundo o dom recebido por cada um no batismo, não é uma entre outras possibilidades que se podem escolher, mas traduz a forma própria e normal de viver a comum e igual dignidade de membros da Igreja, todos corresponsáveis pela sua missão.
Um dos sinais mais promissores que o processo sinodal pode dar à igreja e à sociedade, é mostrar que é possível um outro estilo, uma nova cultura nas relações interpessoais e no exercício de funções comunitárias, contribuindo, assim, para clarificar a distinção entre autoridade e poder, pois aquela reconhece-se no serviço prestado aos irmãos e ao bem comum, enquanto este se esgota na gestão/imposição de perspetivas e interesses pessoais e/ou de grupo, muitas vezes opostos ao bem da Comunidade.
Herdeiros e a viver num mundo cujo paradigma é a competição e a luta pelo poder, assistimos ao romper de equilíbrios antigos, à emergência de novos conflitos e ao exacerbar do individualismo, fazendo com que a solidariedade ceda o lugar à desconfiança, a proximidade ao isolamento e a empatia à indiferença e à rejeição… Neste contexto, o Espírito impele-nos a ser fermento (Lc 13,20-21) de uma outra visão da vida e das relações humanas que faça justiça a Deus e à Humanidade, como Jesus Cristo no-lo revelou.
Por isso, sabendo-nos chamados e enviados, como os setenta e dois discípulos, aos lugares onde o Senhor deseja ir (Lc 10,1), e tendo o Papa Francisco identificado estes lugares com “as periferias existenciais” da sociedade, abrem-se diante de nós campos novos de serviço missionário para os quais todos os batizados são convidados.
Nesta nova etapa de serviço ao Evangelho de Jesus, não bastará a forma habitual de proceder, esperando que alguém ou algum grupo tome a iniciativa: há-de tornar-se preocupação e ocupação de todos, com o seu epicentro na própria Comunidade, onde dois ou três (ou muitos mais!) se reúnem em nome do Senhor Jesus (Mt 18,20) para O escutar, celebrar as maravilhas do Seu amor e preparar a saída missionária.
Nesta hora, precisamos todos de voltar a confrontar o nosso ser e sentir cristãos com a beleza e a grandeza da missão que Cristo confiou, não a alguns de nós, mas a toda a Sua Igreja; em consequência, far-nos-á bem recordar que não somos nós, mas é Ele que escolhe e envia; e nunca devemos esquecer que os destinatários da Missão não são Seus desconhecidos, mas irmãos queridos e amados por Ele, muito antes de nós eventualmente os conhecermos, porque também por eles o Senhor deu a Sua vida.
Assim, tudo o que anunciamos não é nosso, mas do Senhor Ressuscitado, e toda a nossa ação, sendo embora necessária, é sempre segunda, pois somos apenas mediação ao serviço da Sua Palavra e seus ouvintes cuja alegria será sempre ver crescer a relação pessoal e comunitária de cada batizado com Jesus.
Para o efeito, teremos de renovar e ensaiar caminhos novos de escuta d’Aquele que é o Centro e o Protagonista principal do Projeto de Deus Pai, Seu Filho muito Amado! Teremos, na força e na alegria do Espírito Santo, de criar espaços novos para discernir a presença do Senhor Ressuscitado no meio das realidades onde Ele já se encontra e quer ser reconhecido.
Tudo isto se há-de fazer e viver em comunidade para que todos possam ser envolvidos no serviço da Palavra e na fantasia da caridade, inspirados pelos gestos de ternura e misericórdia do Bom Pastor, o qual a todos ama e quer atrair a Si para os conduzir ao coração de Deus Pai.
Pe. Armindo Janeiro
Saudações de Paz e Bem
Muito oportuno este texto do Padre Armindo Janeiro, Vigário Geral da Diocese Leiria-Fátima, neste Dia Mundial das Missões, 20 de Outubro. E também quando a Igreja se encontra reunida em Assembleia Sinodal. Recordo o que, em contexto de reflexão na UASP sobre o Sínodo, nos disse o Padre Armindo: ” …A participação que nos é pedida não é um favor da hierarquia, mas o exercício de um direito que se funda no baptismo”. Na verdade, o Concílio Vaticano II alterou o conceito de missão e, agora, enquanto baptizados, todos somos missionários, comprometidos na evangelização. A Sinodalidade é existência e experiência e, por isso, um dinamismo permanente na vida da Igreja. É o que está a acontecer na Diocese Leiria-Fátima.
Abraço fraterno
Alfredo