Quando em Junho de 2017 a Família Franciscana Portuguesa iniciou as comemorações dos Oitocentos Anos da presença da Ordem dos Frades Menores(OFM) em Portugal fui convidado a apresentar uma comunicação sobre Frei Gualter e as Festas Gualterianas de Guimarães. E assim aconteceu nas jornadas realizadas, mais tarde, na Universidade Católica do Porto. Proponho-me, agora, retomar o mesmo tema, mas, naturalmente, com a elaboração de um texto mais curto. Como antigo aluno da Escola Franciscana procuro acompanhar os frades Menores de todo o mundo que, neste ano de 2025, comemoram o “Oitavo Centenário do Cântico das Criaturas”, o mais belo poema sobre a Criação, escrito por Francisco de Assis, amigo da Natureza e Irmão de todas as criaturas. E, também, porque me inspirei na leitura do livro “Santos e Amigos de Deus”, da OFM em Portugal, de Frei Henrique Rema, padre franciscano, académico brilhante da Academia Portuguesa de História, autor de numerosa bibliografia sobre o franciscanismo em Portugal e nas Missões.
Francisco de Assis, na peregrinação a Santiago de Compostela, terá passado pela vila de Guimarães e no contacto com os seus habitantes prometeu-lhes enviar alguns dos seus frades. Cumpriu a promessa, por 1216, enviando para Portugal Frei Zacarias e Frei Gualter. “….Filhos, eu vos tenho destinados para pregardes no Reino de Portugal. Mas sejam as vossas palavras acompanhadas de obras, porque o exemplo monta mais que a doutrina”. Vindos de Itália, separam-se dos seus companheiros de viagem e resistem ao calor abrasador de Agosto das terras de Castela e da Estremadura. Aqui chegados, Frei Zacarias rumou a Alenquer e Frei Gualter a Guimarães.
Antes da partida, Francisco advertiu Frei Gualter que construísse um pequeno convento na vila medieval de Guimarães, como prometera ao seu povo. E assim aconteceu. Enquanto construíam o modesto eremitério da Fonte Santa no monte de Santa Catarina, diríamos, hoje, no sopé da encosta da Penha, os frades alojaram-se no hospital. Dedicavam-se, no seu dia a dia, à pregação pelas ruas da vila, cuidando dos doentes hospitalizados e ajudando os lavradores nas lides do campo. Frei Gualter, “…Com tanto espírito falava, que os seus ouvintes pediam perdão a Deus e se desfaziam em lágrimas”. A pedido dos fiéis, porque queriam os frades mais próximos, mudaram-se para São Francisco-O-Velho. A maneira austera e contemplativa como viviam atraiu numerosos discípulos à vida religiosa e franciscana.
Após a morte de Frei Gualter, pelo ano de 1259, já os frades menores povoavam várias terras de Portugal: Guimarães, Bragança, Alenquer, Porto e Lisboa. Se em vida era venerado pelos fiéis, a devoção pelo frade cresceu ainda mais. Quando, por 1271, os restos mortais foram trasladados da terra nua para sepulcro de pedra, dentro do Convento, mais aumentou a fama de taumaturgo com os sucessos milagrosos operados por intercessão deste servo de Deus. Posteriormente, em Agosto de 1577, foram novamente trasladados para um sepulcro mais sumptuoso e os prodígios multiplicaram-se! Nesse ano, São Gualter foi declarado padroeiro de Guimarães. A festa, uma das maiores romarias do Norte, celebra-se a 2 de Agosto com imensa participação popular.
O Rei D. Filipe III, por diploma de 20 de Janeiro de 1622, concede que Guimarães celebre, com a maior solenidade, a procissão do Santo. E o Papa Gregório XIII, pela Bula de 17 de Dezembro de 1577, aprovou o seu culto, ampliado pelo Breve de Gregório XV, de 15 de Abril de 1621. E pelo povo foi “canonizado”.
Alfredo Monteiro (AAAFranciscanos)