Pouco a pouco vamo-nos habituando ao Natal como mais uma realidade do domínio do visível: luzes, música, prendas, doçaria, tradições, bolas e árvores, duendes e pais-natal num misto de “magia, cor e alegria” que, mesmo em tempo de restrições, alimenta os sonhos dos mais novos e alivia os bolsos dos mais crescidos.
Até aqui nada de novo. Apenas uma pedra no sapato provocada pela pandemia da Covid-19. O imaginário desta época é de tal maneira forte que parece não se esgotar, pelo menos até à data adulta, quando as contas começam a ser pagas por nós e toda a estafa de quem prepara a grande ceia começa a pesar na balança no finalizar de um ano de trabalhos e de dificuldades imprevistas.
Vem isto a propósito de uma das últimas aulas que lecionei. A certa altura e quando se abordava a importância do dado religioso na evolução humana, um dos alunos do 12º ano – um dos muitos que se afirma não crente – teve uma espécie de “Eureka”:
– “Oh Stor, só agora é que percebi! Então o Natal é tipo a revolução total para a humanidade”.
Confesso que na altura não pensei no modo de chegar a tal conclusão e tive dificuldade em ligar aquela intuição ao conteúdo que estava a ser abordado. A “ficha” caiu-me dias depois quando, em casa, fazia o presépio.
De facto, e apenas em termos religiosos, a possibilidade de um Deus que se torna Humano está para lá das nossas mais férteis imaginações, independentemente da religião que professemos. Em Jesus, o Todo-Poderoso não nos mostra o seu amor, mas torna-se o Próprio Amor e quer experimentá-lo no “osso” da criatura humana. Torna-se vizinho, mais um no meio de tantos!
Naquele ser tão frágil repousa o acreditar de uma humanidade desanimada, caída na ideia que o Real é apenas o visível, incapaz de aceder ao invisível com parte da realidade. Leva-nos à Confiança (com Fé). Naquele frágil corpo uma nova oportunidade, um novo recomeço, uma explosão de possibilidades para a Humanidade e para cada um.
No início de um novo ano o desafio passa por contemplar este Deus-Menino e perceber que Deus, o Deus dos cristãos, é um Deus surpresa, um Deus das possibilidades, que nos precede sempre e nos abre portas que sempre julgámos inatingíveis!
Hoje percebo o “Oh Stor… o Natal é a Revolução! Muito para lá do visível. Muito além das bolinhas, luzes e filhoses é o nascer da possibilidade da realização plena do Humano, a partir daquele Menino, para o religar com o que nos transcende!
Pedro Quintans, AA Espiritano
(Professor do Ensino Secundário)