[:pt]Fátima, diz a tradição, deverá a sua designação a uma nobre moça sarracena, filha do governador do Castelo de Alcácer do Sal que, em consequência da disputa da região por cristãos e muçulmanos no séc. XII, um célebre paladino da Reconquista da região aos mouros, se terá dela enamorado e, depois da sua conversão e batismo, casado.
Enquanto sarracena a jovem recebeu o nome de Fátima em honra de uma filha do profeta Maomé que assim se chamava.
Outras tradições menos fantasiosas, facilmente escrutináveis pela história, foram abordadas naquela simpática e querida cidade no passado sábado, assentes na inspiração do Espirito Santo que através dos tempos foi ajudando a Igreja Católica a consolidar a tradição oral radicada no testemunho dos apóstolos e da tradição escrita na Bíblia.
De fato, cristãos, muçulmanos e a doutrina judaica, partilharam ideias no salão de congressos da Casa Provincial da Congregação das Irmãs do Amor de Deus, sobre a “Misericórdia nas Tradições Abraâmicas”, tema proposto pela UASP (União das Associações dos Antigos Alunos dos Seminários Portugueses) a que várias dezenas de antigos alunos corresponderam com a sua presença.
Previamente às conferências e debates, ainda na sexta-feira, alguns participantes orientados pelo Pe. Armindo Janeiro, percorreram os perfumados caminhos da Via Sacra dos Valinhos, em noite de Primavera, embora fria mas reconfortante para o espírito.
Os conferencistas, após a abertura e oração inicial orientada pelo Pe Armindo e moderados pelo dr. António Agostinho, revelaram-se muito competentes na matéria pois os sinais oriundos da plateia eram de satisfação e interesse pelos temas abordados.
A primeira das conferências esteve ao cuidado de Frei Herculano Alves, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, sob o tema “Misericórdia e Justiça na Bíblia”, que empolgou a plateia face ao profundo conhecimento demonstrado, clareza de exposição e interesse dos participantes, tendo afirmado que Justiça e Misericórdia são a mesma coisa! Pena é não haver espaço para um resumo mais alargado de toda a exposição que se resume no seguinte: A justiça humana tem a lei no centro. A Misericórdia tem o coração: Curar a raiz da árvore!
A segunda conferência, também brilhante, esteve a cargo do Pe Armindo Janeiro que teve como pano de fundo o conceito de parábola e a parábola “O Bom Samaritano”, profusamente comentada nas redes sociais, mas que foi complementada com algumas citações e desafios: Convida os católicos a ser “Missionários da Misericórdia”; lamentou o mundo ocidental que deixou de falar de misericórdia, que a considera uma relíquia de outras épocas e lembrou Papa Francisco que afirmou que “ A igreja é um hospital de campanha”.
As duas primeiras conferências decorreram pela manhã e a terceira abriu os trabalhos da tarde, assistindo-se então à palestra de Riaz Issa, da Comunidade Muçulmana Shia Imami Ismaili, que abordou também o tema da Misericórdia no Islão. Começou por afirmar que antes das suas orações todo o muçulmano começa por recitar a fórmula: ”Em nome de Alá o infinitamente beneficiente e infinitamente misericordioso AR-RAHMAN”. Referiu ainda, entre outros princípios islâmicos da sua origem Xiita que explicou, que o termo AR-RAHIM descreve os atos de misericórdia e que no Alcorão é repetido 114 vezes. BASMALLAH é a fórmula fundamental do Islão que tem uma mensagem de amor e compaixão perpetuamente invocada.
A última conferência esteve a cargo de Monsenhor Luciano Guerra, nome que dispensa apresentações especiais face à obra realizada, que falou da Misericórdia na Mensagem de Fátima, na qual não é profusamente citada, apenas duas vezes, sendo a primeira na segunda aparição do anjo: “Que fazeis? Orai! Orai muito! Os Corações Jesus e Maria têm sobre vós desígnios de misericórdia. Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios”; e a segunda, na visão de Lúcia, em Tui. Mas toda a Mensagem está envolta na Misericórdia de Deus, pois os Pastorinhos não se cansavam de oferecer sacrifícios para desagravar os pecados.
A jornada terminou em oração conjunta através do Salmo 136 e evocação da parábola do Bom Samaritano por parte dos cristãos, tendo Raiz Issa recitado, em árabe e depois em português, uma oração invocando a Paz.
Parece-nos que valeu a pena.
Américo Lino Vinhais
Gabinete de Comunicação
Gostei.Pena nãopoder estar presente