Diz-nos o calendário, está na hora! Comecemos a preparar a Páscoa do Senhor!
É um convite para a Festa: Deus não desiste de nós! Ainda que nós cheguemos a fazê-lo, desistindo d’Ele, uns dos outros e até de nós mesmos, Ele nunca o fez nem nunca o fará (Sl 27,10)! A história de Deus com o seu Povo assim no-lo recorda e a Páscoa do Senhor o atesta de um modo único e definitivo!
Podemos não nos sentir preparados e até incapazes, pelo cansaço, desilusões, frustrações e tantas outras razões, mas Ele do alto da cruz atrai o nosso olhar (Jo 12,32) e reinventa-nos todas as perguntas que a rotina, a indiferença e as contradições da vida, tanto pessoais como institucionais, tanto sociais como culturais já tinham ou vão soterrando…
Porque te deixaste conduzir assim, por entre ódios e invejas, desejos de vingança e vontade de poder, desesperos e mentiras, aceitando tudo o que te quiseram fazer na tua própria carne, que é a nossa? Porque te remeteste ao silêncio, sem procurares defesa, nem da terra nem do Céu (Mt 26,53)?
Há tantos exemplos de crueldade na história da Humanidade que não precisávamos de a ver repetida em Ti! Porque quiseste fazer este percurso trágico da história dos Povos? Porque deixaste que sobre Ti se abatessem todos os abismos do mal, do pecado e da morte?
Só me ocorre uma resposta: porque para Ti somos importantes (Jo 15,13), somos mais preciosos que todos os sofrimentos que padeceste! Assim te fizeste próximo de todas as vítimas, de qualquer tempo e lugar; assim nos acompanhas, como luz e guia, no meio das nossas alegrias e esperanças, dores e tristezas, dando-nos o exemplo para que nos ajudemos, solidariamente, a levar a cruz de todos os dias, ensinando-nos a confiar sempre em Deus!
Mas, que Amor é este que ultrapassa todas as barreiras, todas as fronteiras sem se recusar a nada para que os Amados vejam, sintam, compreendam e gravem no fundo do seu coração o quanto lhes queres bem e deles cuidas? Mais, se este é o projecto radical do Amante – Deus – que não tira a vida, mas a quer dar em abundância (Jo 10,10) aos Amados – todos nós –, quem será capaz de intuir, vislumbrar apenas, o quão belo e sublime será para nós o cumprir-se do desígnio amoroso de Deus, no tempo e para a eternidade?!
Se a força deste Amor é capaz de abraçar o escândalo do sofrimento, do pecado e da morte, abrindo caminho para a Ressurreição de Jesus, seu Filho muito amado (Mt 17,5), fonte de vida nova para todos os que n’Ele acreditam, então preparemo-nos para a Festa do Amor e da Vida, com gestos novos e/ou renovados de serviço aos irmãos, porque jamais passou pela mente e pelo coração do homem o que Deus preparou para aqueles que O amam (1Cor 2,9). A todos desejo uma santa caminhada quaresmal.
P. Armindo Janeiro
Vamos aproveitar o oportuno convite do Padre Armindo Janeiro como preparação próxima para a Páscoa. Mas será também um bom ensaio para a caminhada solidária da UASP ao encontro dos nossos irmãos de Moçambique……..
Abraço de Paz e Bem
Alfredo
A ideia da não-desistência de Deus parece-me muito fecunda enquanto ligada a Jo 15 – onde Jesus nos pede que permaneçamos/persistamos na união com Ele – e a parábola da viúva e do juiz que não queria fazer-lhe justiça. Conviria ainda desenvolver em relação com outros termos, por ex. a constância que S. Paulo recomenda, creio que com frequência, e a vigilância, de que nos fala a parábola das dez virgens acerca dos riscos do excesso da confiança.
Um outro termo (inglês) muito em voga é «resilient», que significa «elástico» e o substantivo «resiliance». Todos estes termos têm a ver com a virtude da esperança, sobre a qual S.Tiago ( ou Hebreus?) se alarga de modo positivo. Tudo a fundar na certeza ou incerteza/insegurança do conhecimento, o qual é a raiz necessária de todos os nossos contactos/uniões com todas as coisas, presentes e futuras, materiais e espirituais e portanto da Filosofia e da Teologia. Ciao!