Há muito que no interior da Igreja Católica, mas não só, se vem firmando a ideia de que vivemos num tempo de mudança que pede mudança. Não porque o Evangelho de Jesus, mesmo nos tempos modernos, tenha deixado de constituir uma boa notícia e um ato de responsabilidade. De facto, o Evangelho continua a ser a Boa Nova. Mas se não formos capazes de o testemunhar, a sua mensagem terá mais dificuldade em passar.
No entanto, a mensagem que transmitimos não o podemos fazer como foi há cem anos. A linguagem tem de ser de hoje. Se o não for, corremos o risco de usar linguagens que os nossos destinatários não compreendem.
Estas e outras razões levaram Sua Santidade o Papa Francisco a convocar o Sínodo dos Bispos cuja primeira sessão decorreu no mês de outubro, em Roma.
Sempre atenta ao que é importante, a direção da UASP (União das Associações dos Antigos Alunos dos Seminários Portugueses) convocou as suas associadas para, a anteceder a Assembleia geral de Outono, participar num momento de partilha sobre o que se tinha passado em Roma, orientado pela profissional da comunicação LeopolDina Simões, que integra a comissão internacional da Comunicação do Sínodo e que em outubro último acompanhou os trabalhos da Primeira Sessão da 16ª Assembleia Sinodal, realizada no Vaticano.
Abriu a sessão o Vigário-Geral da Diocese Leiria-Fátima e também presidente da direção da UASP, o Pe Armindo Janeiro, com uma curta introdução de agradecimento e de boas-vindas à plateia, mas também à palestrante.
Também a convidada saudou e agradeceu, além do convite, as presenças.
Começou por afirmar que o Papa convocou a todos para este Sínodo e que pela primeira vez a Assembleia teve uma participação global. Padres, freiras, leigos e leigas, em prol de uma igreja sinodal em “Comunhão – Participação – Missão”. Reuniram em Roma cerca de quatrocentas e cinquenta pessoas, diferentes entre si, com formações, idades e histórias de vida distintas. Decorria assim o Sínodo de todos, todos, todos, na expressão usada em Lisboa pelo Papa Francisco aquando da JMJ Lisboa 2023. Até das mulheres!
Estiveram representadas a generalidade das igrejas cristãs protestantes e ortodoxas, embora sem direito de voto. Leopoldina valorizou o facto de a primeira sessão da assembleia plenária ter a participação activa de várias mulheres.
Realçou a circunstância de, pela primeira vez, o português ser língua utilizada nas comunicações, por haver muitos participantes a falar português, com o sacerdote português padre Fernando Ventura, a fazer o trabalho de tradução. No serviço de Comunicação estiveram dois profissionais de comunicação, referiu, ela própria e o padre Paulo Terroso, da arquidiocese de Braça.
Foi descrita a organização física de uma aula sinodal diferente da habitual, que exalava uma aura diferente, de maior proximidade e diálogo. Foi o Sínodo das mesas redondas, ao contrário das anteriores edições que eram formadas por plateias tradicionais. Cada mesa congregava uma dúzia de pessoas.
O caminho deste Sínodo, referiu Leopoldina, tem sido feito a diferentes ritmos e com diferentes expectativas. O receio de alguns, que temem demasiados avanços, contrasta com o receio de outros de que o Sínodo não traga as mudanças esperadas. Há quem tema que os tempos que correm sejam o entardecer da igreja, que a igreja acabe. Contudo, Leopoldina sublinhou na assembleia sinodal o consenso dos participantes, o de uma participação dialogante, o compromisso dos participantes com o maior bem da Igreja e o bem que ela pode continuar a trazer e a testemunhar no mundo e na sociedade.
A agenda global da primeira sessão da assembleia, com a segunda agendada para outubro de 2024, foi a do diálogo, assente no respeito e na oração. Ouvir a uns e a outros, ouvir o Espírito Santo e as palavras do Papa Francisco, que fez questão de estar presente nos momentos principais dos trabalhos e congregou os participantes em vários momentos de oração e até de peregrinação, no caso, às Catacumbas de Roma.
Leopoldina invocou algumas sábias palavras do Irmão Timothy Radcliff, frade inglês dominicano de formação e autor do livro “A Arte de Viver em Deus”, que numa conferência de imprensa realizada durante a assembleia sinodal declarou: “Esta assembleia é uma mudança extraordinária na forma de sermos igreja, juntos. Já participei em quatro, mas este é completamente diferente. É um acontecimento de fé, não de qualquer outra coisa.”
Na descrição dos trabalhos sinodais, aludiu aos Círculos Menores, onde, no discernimento sobre os temas que o Instrumentum Laboris propunha à reflexão, se seguiu o método do diálogo no espírito, onde todos eram convidados a tomar a palavra e a escutar, onde partilhavam as suas próprias experiências, anseios e dúvidas sobre cada assunto. Cada mesa era um circuito fechado. Após o trabalho em grupo restrito, sob a moderação de um facilitador que integrava o grupo, cada Círculo Menor partilhava com toda a assembleia a síntese da reflexão, lida pelo secretário escolhido nesse mesmo grupo de doze. Todas as sínteses eram depois entregues à Secretaria-Geral com vista a elaboração do Relatório Síntese, pela respectiva Comissão de Redação, eleita entre todos os participantes.
Globalmente, foi um sínodo de “consensos”, pois em geral o consenso era procurado e conseguido.
Dando alguns exemplos, Leopoldina partilhou que apreciou sobremaneira os momentos em que os participantes se inscreveram para individualmente apresentarem a sua experiência ou reflexão sobre determinado tema. Foram, a seu ver, os momentos onde claramente se percebeu que a graça do Baptismo, que todos recebemos, produz, pela riqueza dos seus dons e carismas, histórias e projectos de vida diferentes que se manifestam no serviço à Igreja e ao Mundo.
Das conclusões foi elaborado um Relatório Síntese que, embora não constitua uma decisão, foi aprovado por mais de dois terços dos participantes. Após a sua aprovação, o documento foi apresentado em conferência de imprensa na Sala de Imprensa do Vaticano a jornalistas do mundo inteiro.
Quid nunc? E agora? O momento é agora! Estamos num momento de “esperança”. Já não estamos iguais, nem podíamos estar. Neste caminho, que ainda não terminou, conversamos e dialogamos mais!
Globalmente, os jornalistas esperavam temas mais controversos. Muito focados em casos, esperavam disputas acesas. Os temas mais polarizados foram refletidos, sim, mas como todos os outros.
Os problemas da igreja são diferentes de região para região. Por exemplo, enquanto a Igreja ocidental se debate com falta de seminaristas, nas Filipinas e em alguns países africanos, a título de exemplo, existe uma imensidão de candidatos e candidatas à vida religiosa. Notaram-se também algumas diferenças na perceção do que devem ser os seminários, sobretudo ao nível da formação, quando alguns sacerdotes mais velhos partilhavam… que estão mais atualizados do que os mais novos. Há que prestar atenção à devoção mariana e popular; aos mais pobres, mas sem ser assistencialista; aos migrantes, mas sem racismo. No fundo, apela-se no documento final à evangelização, reconhecendo-se que, nesse mister, há comunidades muito empenhadas.
Todo o documento deve ser estudado.
A oradora deu a conhecer algumas das actividades que logo a seguir ao encerramento da assembleia sinodal foram realizadas no mundo, relacionadas com o este Sínodo. Entre outras, referiu a realização inédita de um Encontro Internacional de Superiores e Superioras Gerais, em Roma, para reflectir sobre o documento de síntese e onde, no próprio encontro, foi usado o método da conversão no Espírito.
O caminho até outubro de 2024, aprazado para novo encontro sinodal, faz-se… caminhando!
Os temas tratados e outras informações podem ser consultados no sítio do Vaticano www.synod.va, em várias línguas.
Américo Lino Vinhais
Gabinete da Comunicação da UASP