Após a explanação quanto aos vários períodos da história da Bíblia, foi concedido um período de debate no qual o Pe Armindo entrou afirmando estarmos a viver uma mudança de paradigma pastoral. De facto, estávamos mais centrados na celebração da vida dos santos e na promoção de uma pastoral especializada, muito por influência dos dinamismos da Acção Católica do último século, mas estão a crescer novas centralidades: a Palavra de Deus e a família. Outras intervenções houve, mas não se afastaram do conteúdo de matéria já tratada, a não ser uma questão levantada ou, melhor, reposicionada pela Isabel, uma vez que o tema tinha sido já aflorado anteriormente e que tem a ver com o famigerado “pecado original” a que o Frei Herculano não se furtou e mergulhou até bem fundo no tema.
Para interpretar o pecado original – género literário -, deverá indagar-se qual o sentido do texto. Os capítulos I ao XI da Bíblia são do género mítico, em forma de história. Parece história, mas não são história. Não se pode ler a Bíblia no sentido de que é uma história. Adão e Eva não existiram de facto: – É mito! É tribal.
Mas havia necessidade de encontrar, de facto, a origem de tanta gente e, utilizando graficamente uma pirâmide em que o campo aberto interior da figura geométrica é representada por variadíssimos povos, subindo camada a camada, chega-se ao topo. Ora sendo a mentalidade do povo tribal, no topo chega-se à teoria dos “primeiros” e aí foram colocados um homem e uma mulher: – Adão que significa “homem” em hebraico e Eva que significa “que gera filhos”, tendo assim origem verbal. Ora, neste sentido, como pode ter havido pecado original! Os elementos das tribos eram pecadores e faziam a guerra, mas não cometeram nenhum pecado original. Ora se não há seres humanos de carne e osso, apenas um mito, não houve pecado original. Não havendo culpa moral, não há pecado!
David, se calhar, não sabia fazer salmos e não terá feito nenhum! Foram os primeiros que os terão feito, por haver entre eles gente de sabedoria! Aos “primeiros” atribui-se tudo o que os outros fizeram.
Não há história sobre Abraão! Foi um “primeiro”! Abraão era o mais conhecido. Se não existia, tinha de existir! Teve de ter pai e mãe. Aos “primeiros” atribui-se tudo o que o povo já vive. Israel necessitava de um modelo de Fé.
A Bíblia não é história, é a Palavra de Deus. Utiliza géneros literários para nos dar a palavra verdadeira.
O batismo nunca foi pensado para limpar o pecado original! Foi instituído para se entrar na Igreja. Só muito mais tarde é que surge a ideia de limpeza dos pecados, mas apenas nos adultos, porque as crianças não cometeram pecado nenhum!
Terminada o tempo de intervenção da plateia entrou-se numa espécie de segunda parte para o orador explicar o conteúdo relativo à Bíblia em Portugal, uma edição de que é autor e é composta por seis volumes, devidamente estruturados, tratando o Volume I “As Línguas da Bíblia”, o II “A Bíblia na Idade Média”, o III “A Bíblia nos séculos XVI e XVII, o IV “A Bíblia de João Ferreira Annes d’Almeida (sendo a Bíblia mais editada em português, estimando-se terem sido feitas onze milhões de cópias), o V “A Bíblia nos séculos XVIII e XIX” (uma Bíblia de António Pereira de Figueiredo, o primeiro autor em língua portuguesa) e, finalmente o VI “A Bíblia nos séculos XX e XXI” que, depois de somados os seus conteúdos chega-se aos seguintes valores: – 5950 os autores ali vertidos; – 24158 obras ali incluídas; – 5890 páginas! É obra! Muito trabalho teve e continua a ter pela frente o Frei Herculano Alves, a quem agradecemos a qualidade da sessão que levou a bom porto.
Para a tarde desse dia 26 de novembro de 2022, estava também marcada a Assembleia-Geral de outono da UASP, cuja ata se dará a conhecer oportunamente, sendo relevante referir, desde já, que a Assembleia-Geral da primavera de 2023 ficou marcada para o dia 18 de fevereiro que decorrerá no Seminário Diocesano de Coimbra e que as Jornadas Culturais da UASP, a decorrer em 2023, nos dias 8 e 9 de julho, serão organizadas pela Associação dos Antigos Alunos Combonianos e decorrerão no Vale do Ave e Guimarães. Não menos importante foi a decisão de aprovação das contas e do orçamento para 2023.
Américo Lino Vinhais
Gabinete de Comunicação da UASP