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Domingo, Novembro 24, 2024

A  Árvore  e a  Floresta, por Alfredo Monteiro

Numa sexta-feira do mês de Outubro findo fui espectador atento, como de outras vezes, de um programa de televisão cujo tema em debate era a pedofilia na Igreja Católica. Sabendo que durante longos dias, em paralelo com as imagens dramáticas da “loucura da guerra” na Ucrânia, foi assunto permanente da comunicação social, mais despertou em mim  o  interesse de saber como o tema seria tratado pelo moderador e convidados do respectivo painel. De formação e competências profissionais diversas os quatro comentadores foram quase unânimes na forma de condenação da Igreja Católica mais do que do terrível mal da pedofilia e dos crimes hediondos dos pedófilos! A Igreja e a Família, enquanto instituições principais da Sociedade, não são de natureza pedófila. Mas, infelizmente nelas coabita quem pratica  crimes horrorosos que nos envergonham, magoam e entristecem profundamente. As vítimas indefesas sentem-se traídas na sua boa fé e confiança. Grande parte são crianças, adolescentes, menores e pessoas frágeis e não meros números para as estatísticas. Por isso, um único caso que seja merece a condenação, sem reservas, de quem o pratica e de quem com ele, directa ou indirectamente, colabora e encobre. Mas, também é de condenar aqueles meios de comunicação social que persistem em divulgar “alegados abusos e escândalos”, no seio da Igreja, sem fundamento nem provas concretas. A procura da verdade deve ser o caminho.

Acontece que, nesses “fóruns” televisivos, não é difícil constatar que há comentadores sem a preparação necessária. Desconhecem a origem, natureza e identidade da Igreja Católica. No programa, acima referido, uma jovem senhora, politóloga, serviu-se da terminologia empresarial, como “recrutamento” e “funcionários”, sem cuidar de conhecer o itinerário, a orientação e o discernimento vocacional dos candidatos ao sacerdócio e a existência de equipas formadoras nos seminários diocesanos e religiosos. Como se todo este processo fosse semelhante ao desenvolvido pelo departamento de Recursos Humanos de uma grande empresa a selecionar pessoal para os seus quadros!

Ora, a Igreja é, na verdade, uma comunidade de pessoas, mas igualmente uma entidade espiritual, dinâmica, santa e pecadora. A missão é a identidade da Igreja de Jesus Cristo. O conceito de missão mudou profundamente com o Concílio Vaticano II, o que ainda muitos desconhecem! E, assim, enquanto cristãos baptizados, somos todos Igreja e não apenas a hierarquia, os ordenados e religiosos consagrados.

O Sínodo proposto pelo Papa Francisco, implica encontro, escuta e discernimento.

Porque à humildade de escutar deve corresponder a coragem de também falar, permito-me hoje apresentar uma pequena amostra de factos que raramente lemos ou ouvimos na comunicação social e alguns dos quais foram por mim vivenciados e presencialmente testemunhados.

Nos últimos anos, anteriores à pandemia, no âmbito do projecto “Por mares dantes navegados”, promovido pela UASP, integrei um grupo de antigos alunos dos seminários portugueses que partiram, em missão de paz, de fraternidade e de solidariedade, para alguns países africanos de expressão portuguesa. Senti nas populações, principalmente nas crianças e jovens, muitas em situação de pobreza extrema, a esperança de poderem ainda viverem um futuro melhor. Mas, para que tal aconteça contam, no terreno, com a ajuda e proximidade permanente dos missionários, padres, irmãos e irmãs, e leigos voluntários.  Enfim, toda a Igreja sinodal, samaritana e missionária.

Concluo, socorrendo-me, muito resumidamente, de algumas estatísticas publicadas, mas que habitualmente não merecem a atenção devida nos meios de comunicação social! Sem querer referir percentagens, posso afirmar que Igreja Católica é a Instituição que mais serviços presta no âmbito da solidariedade social, sobretudo em África, mas também nos restantes continentes. São escolas, hospitais, orfanatos, dispensários, creches e jardins de infância, etc. Homens e Mulheres enviados para as periferias reais e existenciais, com coragem e ousadia, como afirma o Papa Francisco, a testemunharem, “com palavras e obras” a Mensagem Evangélica.

Alfredo Monteiro (AAAFranciscanos)

2 thoughts on “A  Árvore  e a  Floresta, por Alfredo Monteiro

  1. Li atentamente o seu artigo e estou plenamente de acordo com a sua perspectiva. É evidente que este nosso Portugal está minado de ideologias que em nada ajudam a criar uma sociedade equilibrada e com bom senso… Confiemos na acção do Espírito de Deus e aguardemos melhores dias… Forte abraço.

  2. Caro Alfredo Monteiro, subscrevo e aplaudo. Efectivamente, muito do que é discutido na praça pública sobre esta matéria (gravíssima, é certo), é feita por gente que está ali sem saber o que diz. Pena, porque o diálogo e informação séria impõe-se e é fundamental, para que todos tenham consciência verdadeira do fenómeno, com a devida leitura ao longo dos tempos, para que não possa mais acontecer; e esta gente “jabarda” toda a discussão, tornando-a não séria, no mínimo duvidosa e descentrada do seu verdadeiro núcleo. Prestam um péssimo serviço à informação, às vítimas, à grande instituição “Igreja”, e aos agressores. Fazem um jornalismo de tipo “piropos”. Triste!!!

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