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Sábado, Novembro 23, 2024

Jerusalém edificada como cidade inabalável_Parte 1

Por Luis Matias (ASDL)

Ainda mal acabados de refazer da intensidade que vivemos na nossa peregrinação à “Terra Santa”, da qual chegámos há duas semanas, apetece-me utilizar como título esta citação (adaptada à canção), do Salmo 121.

A viagem foi programada em segunda linha, por imperativo de se ter ainda adiado o já programado rumo a Moçambique, no âmbito da já famosa acção anual “Por mares dantes navegados”. A escolha da “Terra Santa” (e designamos assim porque temos dificuldade em distinguir com rigor os países e terras por onde andámos), foi unânime entre a Direcção da UASP e, sabemos hoje, não poderíamos ter melhor escolha.

Contámos, para o retumbante êxito da viagem, com o conhecimento prévio do Pe. Manuel Armindo Janeiro, que além de conhecer o terreno, conhecia a pessoa certa para nos guiar, além dos guias, na interpretação religiosa dos locais e da cultura das gentes com quem contactámos.

O Grupo constituiu-se com 30 navegantes, e em Telavive esperava-nos o 31º, o jovem Pe. Johnny, conhecedor profundo da cultura hebraica, dos lugares e, sobretudo, da sua ligação às Escrituras. Ele viveu e estudou 8 anos em Jerusalém, Sagrada Escritura, e conseguiu de forma espantosa, animar e transpor para os cenários actuais que visitámos, as cenas que sempre lemos ou ouvimos e, de alguma forma, idealizávamos nas nossas cabeças e corações e que constituem o nosso processo de conhecimento nestas matérias.

O Grupo viajou de Lisboa para Telavive, com excepção de 5 navegantes que fizeram um périplo pela espantosa Istambul, que só vimos do ar, mas que convida.

Admirámos Telavive, a moderna cidade israelita que até há pouco tempo era capital do estado, mas fixámo-nos com maior detalhe na vizinha cidade a sul, Jafa, por onde S. Pedro muito apostolou. Visitámos a igreja de S. Pedro, marco maior da sua permanência naquele local e, dali, disfrutámos também a melhor vista de Telavive e da sua imponente marginal mediterrânica. E seguimos para uma cidade a norte, Cesareia Marítima, outrora centro nevrálgico do mundo, porquanto, teve uma importância estratégica no domínio do mundo, sendo ponto administrativo de cruzamento na passagem entre os 3 continentes conhecidos (Europa, Ásia e África). Pensa-se que, desse posicionamento estratégico, resulte ao longo dos milénios o interesse por estas terras que, sucessivamente, têm sido disputadas, invadidas, recuperadas… até aos dias de hoje. Em Cesareia, somos presenteados com soberbas memórias da antiguidade, bem preservadas, e das quais destacamos o gigantesco anfiteatro ao ar livre, ainda utilizado para coisas modernas. Imemorial, portanto!

Depois, a fantástica cidade de Haifa. Moderníssima, altamente tecnológica e industrial, cosmopolita, onde as tecnologias de ponta do mundo são pensadas e realizadas. Um anfiteatro natural que encima com o Monte Carmelo e confina com o mar, mediterrânio sempre azul, sempre tranquilo, com um monumental porto de mar, numa baia natural e onde podemos avistar o enorme tráfego, a julgar pela quantidade de navios em fila para aportar. Logo ali a seguir, um pouco mais a norte, a cidade de S. João de Acre, por onde passámos no caminho para o Monte Tabor, onde, segundo a tradição, terá ocorrido o momento da “transfiguração”.

Mas antes, contactámos em história e em vista, com a evidência cosmopolita do povo de Israel, numa grande cidade moderna, e onde a vista podia facilmente distinguir, em coexistência pacífica, zigurates de mesquitas, cúpulas de sinagogas, torres sineiras cristãs e o monumental templo de Bahái, que adorna de forma privilegiada o centro do Monte Carmelo, onde, num convento franciscano, tivemos a nossa primeira celebração, ou melhor, concelebração, porque sempre tivemos bem providos de sacerdotes, 4, e de uma colaborante e interessada assembleia de mais 26 fieis navegantes. A nossa guia principal, argentina judia, não professando a religião católica, sabia mais, mesmo das Escrituras, do que muitos e muitos católicos praticantes. Claro que o Pe. Johnny não deixou por mãos alheias o fundo das coisas nessa matéria. Enriqueceu de forma grandiosa o nosso percurso, e isso, foi um privilégio que não é para todos. É a primeira grande nota diferenciadora da maioria de outros grupos que visitam Israel.

No Monte do Tabor, também me apeteceu dizer: “Façamos aqui três tendas”… Teriam que ser bem atadas, porque era muito ventoso. E não foi daquele dia, é sempre; tem até uma porta chamada “porta do vento”. A Basílica da Transfiguração, bonita, é franciscana, e tem uma arquitectura interior muito particular. O monte tem uma vista desimpedida e muito ampla sobre uma enorme planície, muito fértil, com lagoas artificiais que garantem água para a enorme actividade agrícola desta região, e onde se vislumbram na paisagem inúmeras instalações industriais também ligadas à agricultura e à produção de energia. Nas povoações, destacam-se os sempre presentes zigurates árabes das mesquitas. Esta é uma zona de forte implantação árabe.

E a partir de agora, flectimos mais para o interior, sempre próximos da fronteira com o Líbano. Avistámos os famosos Montes Goulan, e fomos fazer jus à nossa qualidade de navegantes. Rumámos ao lago de Tiberíades (ou mar de Tiberíades, Galileia ou Genasaré), e a sensação que começámos a garantir no Tabor, aqui fortalece e entra-nos na alma: estamos a percorrer, verdadeiramente, os espaços onde o Mestre calcorreou há dois mil anos. Se há lugares em que a tradição diz que foi ali, há umas ruínas, mas fica a sensação de que a dita tradição pode ter deslocado os lugares para mais ao lado, isso não se passa aqui. Não consta que o Lago tivesse mudado de sítio. Ele andou muito aqui à volta. Fez milagres, ensinou o povo e acolheu-o. Fizemos um passeio de barco pelo Lago, que é enorme, azul, com a cidade de Tiberíades a espraiar-se a oeste, margem abaixo. Mas o que mais emocionou foram locais nas suas margens que são icónicos: Cafarnaum, a casa de Pedro, mesmo aqui na margem do Lago, o Monte das Bem-Aventuranças, o local do milagre dos pães. Tudo sinalizado, tudo preservado, no que ainda resta e, sempre foi adicionada igreja comemorativa, algumas muito modernas, outras ortodoxas, antigas, com destruição, umas, ou não, outras, dos locais originais. Aqui, eu senti estar verdadeiramente nas pegadas do mestre. (Continua)

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