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Sábado, Novembro 23, 2024

Em  Maio com as  nossas Mães … , Por Alfredo Monteiro

Naquele lugar desconhecido, entre o Minho e Trás-os-Montes, com a chegada do Maio florido, o povo celebrava festivamente o “Mês de Maria”. As badaladas do sino, terminadas as lides agrícolas, reunia os fiéis na pequena capela românica. Na ausência do pároco emergia sempre alguém, entre os presentes, que  orientava a “reza do terço” e iniciava os tradicionais cânticos marianos.

Passadas tantas décadas, recordo e guardo no coração cada princípio de noite desses “maios” longínquos! Porém, com 11 anos deixei a aldeia para ingressar no Seminário Franciscano e só regressava nas férias do verão. Agora, quase despovoada, fruto da emigração, é mais conhecida, porque ali acabaram de construir, no rio Tâmega, a grande barragem de Daivões. Ainda, hoje, sempre que chega o mês de Maio, o povo de muitos lugares, rurais e urbanos olha Maria com renovado carinho, convidando à oração do terço no aconchego familiar ou na comunidade paroquial.

Maria, filha de Ana e de Joaquim, era uma jovem simples de Nazaré, pequena povoação nas periferias de Israel, então, também desconhecida, mas “sobre ela pousou o olhar do Senhor e foi escolhida para ser Mãe de Jesus Cristo”. Perante o anúncio do Arcanjo Gabriel, “A cheia de Graça”, fica naturalmente admirada ao ver que Deus, para assumir a natureza humana, a escolheu!

Das nossas mães recebemos tudo gratuitamente, também  devemos retribuir como fez Maria ao partilhar com a sua prima Isabel o dom da maternidade. Sendo Mãe sempre presente acompanhou o seu querido Filho, tanto nos momentos felizes, como nos dolorosos. Assim procuram ser as nossas mães.

A “Casa da Criança de Guimarães” cuja missão principal é o acolhimento de crianças em risco tem um lema muito bonito: “Toda a criança tem direito a um Colo”. Então, que nos sirva de inspiração para, durante a vida, pedirmos à nossa Mãe do Céu e à da terra que nos abracem e nos acolham no seu colo, como a criança que, para as mães, continuamos a ser….

Soube que a origem do dia da Mãe remonta à antiguidade clássica. Vamos continuar a celebrar essa bonita tradição. Por mim, vou partilhar convosco o poema “Raízes” que escrevi para a minha mãe e para todas as mães que já “adormeceram”.

RAÍZES

Mãe,

deixei de vez o teu peito,

secaram, talvez, as raízes

da vida que me deste.

Procuro-te angustiado

no leito da morte

em busca do milagre desejado

da tua ressurreição!….

Mas, já não oiço o coração

que também é meu…..

O céu chora como eu

à espera que as lágrimas

irriguem as raízes da vida

e amamentem o teu amor eterno!….

Descanso no além o meu olhar sereno

à procura, também,

do teu olhar materno…..

E já não sei, Mãe,

Se morreste ou adormeceste?!….

( 09 de Julho de 2014, dia do falecimento, aos 102 anos)

Alfredo Monteiro
AAAFranciscanos

2 thoughts on “Em  Maio com as  nossas Mães … , Por Alfredo Monteiro

  1. Parabéns Alfredo, o apelo ao colo de Mãe será sempre a tábua de salvação para as nossas angústias e o grito pelas fragilidades da nossa curta passagem por esta terra sedenta de justiça e paz. Abraço, J Gomes

  2. Bonito poema. Pensamentos simples mas profundos sobre a maior ligação afectiva que a natureza humana produziu- a relação mãe/filho.
    Parabéns e obrigado

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