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Quinta-feira, Novembro 21, 2024

O resgate do escravo…

Um vírus traiçoeiro saído da degradação ambiental ou da manipulação genética para fins inconfessados, persegue a humanidade, há mais de um ano, e arrasta consigo um cortejo imenso de vítimas, levantando suspeitas sobre todos os nossos contactos presenciais; e ameaça voltar, em vagas sucessivas, para lançar mais insegurança e desespero, mais destruição e morte, suspendendo a vida comunitária à face da Terra e mantendo-nos reféns…

Com que alívio recebemos a notícia da descoberta de vacinas, com que expectativa assistimos ao início da vacinação… pois só assim se pode enfrentar com eficácia a crise sanitária! Contudo, a dimensão da calamidade – necessitamos de milhares de milhões de doses –, a capacidade instalada para a sua produção, a necessidade de integrar novas respostas à mutação do vírus, os interesses instalados e os critérios de distribuição fazem com que tudo se torne lento, muito lento, não permitindo que a resposta chegue, em tempo útil, a muitos dos mais frágeis!

Além disto, sabemos também que, embora evite males maiores – reduzindo em muito os internamentos em cuidados intensivos e as mortes –, a vacina não impede a transmissão do vírus, pelo que a sua circulação na comunidade continua a exigir de todos nós grande sentido de responsabilidade social, velando sobretudo pelas situações em que possa haver maior risco de contágio. Torna-se pois claro que, qualquer descuido nestes casos, pode ser fatal!

É neste contexto que nos aproximamos a passos largos da Páscoa do Senhor, a maior Festa cristã! Ela é, no essencial, celebração da vida recebida, resgatada e renovada. Não apenas no sentido da libertação de uma doença ou de uma situação pessoal humilhante, mas a oferta de um horizonte absolutamente novo que faz da morte uma passagem – a nossa páscoa definitiva para a vida plena em Deus – e que se prepara aqui, pela confissão de fé em Cristo e pelo bem que fazemos.

Paradoxalmente, sendo nós quem precisa de resgate e mais beneficia da acção redentora de Jesus, pois nos redime do pecado e nos introduz na comunhão com o Pai, o que se torna evidente, quer na história de Deus com o seu Povo quer hoje, é que é Ele – no seu amor infinito pela Humanidade – que toma a iniciativa e nunca desiste de nós, mesmo depois de traído, rejeitado e humilhado na pessoa do seu Filho; o Crucificado não condenou nem condena, antes pelo contrário, compadecido da nossa miséria, suplica: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34).

Sem fugas nem escusas, sem exigências nem manipulações, Jesus entrega-se todo e por amor para nos mostrar quem somos nós para Deus e qual é o seu projecto para nós. Se precisamos – e muito – de vacinas, bem maior é a carência que temos da vida do Ressuscitado! Que a gratuidade do Seu amor desperte em nós a gratidão de irmãos em Cristo e filhos adoptivos de Deus Pai!

A concluir a primeira parte da Vigília Pascal se canta: “Esta é a noite, em que Cristo, quebrando as cadeias da morte, se levanta vitorioso do seu túmulo. De nada serviria ter nascido, se não tivéssemos sido resgatados. Oh admirável condescendência da vossa graça! Oh incomparável predilecção do vosso amor! Para resgatar o escravo, entregastes o Filho!”

P. Armindo Janeiro

2 thoughts on “O resgate do escravo…

  1. Bom texto que o Padre Armindo nos oferece para reflexão. Temos presente um ano de pandemia, causador de muito sofrimento, mas também de novas aprendizagens. Está próxima a Páscoa e com ela a alegria e a Esperança na Ressurreição de Jesus Cristo. Entretanto, acreditamos que, pelos caminhos mais difíceis, temos a ajuda do nosso Cireneu……..
    Santa Páscoa

  2. Belo texto. Friso a expressão: “O Crucificado não condenou nem condena”. Pois ‘Eu sei que o meu Redentor está vivo’ (Job 19, 25). Confiemos. Uma Santa Páscoa!

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