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Terça-feira, Dezembro 03, 2024

A economia de Francisco

Decorreu de 19 a 21 de Novembro, on line, o encontro de Assis dedicado à aposta numa nova economia e em que os jovens de todo o mundo foram convidados a participar juntamente com vozes experimentadas do mundo empresarial e académico. Mais de 2.000 jovens, de 115 países, souberam dizer presente e participar activamente nas jornadas.

O papa Francisco foi bem claro nos objectivos traçados para estas jornadas e todos os longos meses de preparação: «Estudar e praticar uma economia diferente, a economia que faz viver e que não mata; que inclui e não exclui; que humaniza e não desumaniza; que cuida da Criação e que não a delapida». Além de dois prémios nobel e outros grandes nomes da economia actual, bem como empresários, quis contar com a participação de 500 jovens de todo o planeta. Afinal, foram mais de 2.000, tal a resposta ao desafio lançado.

A juventude tem que ser profecia de uma «economia que se preocupa com a pessoa e com o meio ambiente. Daí que instituição e comunidades de todo o mundo tenham organizado em menos de um ano mais de duzentos encontros e grupos de trabalho preparatórios. E o convite não foi apenas para os que têm fé, mas extensivo a todos os homens de boa vontade, independentemente das diferenças de credo. Todos se encontraram para alcançar «um pacto para mudar a economia actual e dar uma alma à economia de amanhã».

Por feliz coincidência, encontrei um texto de meu tio cónego António Luís Vaz, escrito no «Diário do Minho» de 17 de Abril de 1938, a propósito da Páscoa e com o singular título: «Nós somos pela Revolução».

Cito: «O grande mal do nosso tempo é quererem os homens transformar o mundo com a máquina, com a técnica, sem fazer caso do único meio capaz de lhe trazer o remédio de que precisa.

O que falta aos homens do nosso tempo é o sentido do humano que lhes faça ver a grandeza do homem, a dignidade da pessoa humana em todas as classes e em todas as condições.

O problema económico não deve ser anunciado apenas em números; deve ser posto em termos humanos. E só quando todos virem no homem aquela realidade que Jesus ensinou e pela qual deu a sua vida, só então o mundo deixará de ser um covil de feras, para ser uma região de paz e felicidade.

Como tudo iria melhor se se vivesse a doutrina e os homens procurassem examinar os grandes problemas à luz que vem do alto, da divina mensagem que Jesus veio trazer, pela qual morreu e pela qual ressuscitou». Este texto tem 82 anos!

Zoran Rajn, experto em ‘crowfunding’, que dirige o Centro Internacional Crowfunding de Zagreb, na Croácia, afirma: «Creio que é necessário apostar na evangelização dos empresários e gestores, porque a verdadeira mudança social só a pode fazer quem, para além do dinheiro, tem Cristo». E acrescenta: «Os modelos sobre que plasmar o futuro e erradicar todo o tipo de pobreza, são aqueles que se baseiam em: melhor instrução, alfabetização linguística, financeira e digital, e, particularmente, a educação espiritual».

Estas são afirmações de alguém cuja especialidade, o «crowfunding, é precisamente um processo de mobilização de recursos que parte de baixo e se desenvolve der maneira colaborativa, porque «o acesso ao capital é um dos desafios fundamentais do desenvolvimento económico».

Desde sempre foi preocupação da Mãe Igreja que as pessoas não sobrevivam apenas pela esmola, mas que consigam realmente viver. A primeira grande revolução do trabalho foi operada por são Bento com o famoso ‘Ora et labora’ – ‘Reza e trabalha’. Porque, como afirma nos nossos dias Bento XVI, na ‘Caritas in veritate’ (nº 25): «Estar sem trabalho muito tempo, ou dependência prolongada da assistência pública ou privada, mina a liberdade e a criatividade da pessoa e das suas relações familiares e sociais, com graves danos no plano psicológico e espiritual». Já o Vaticano II tinha afirmado com rotundidade: «O homem é o autor, o centro e o fim de toda a vida económica e social» (GS, 63) E São João Crisóstomo tinha sido mais contundente: «Não fazer participar os pobres dos próprios bens é roubar-lhes e tirar-lhes a vida (…) porque o que possuímos não são bens nossos, mas seus». (Catecismo da Igreja Católica, nº 2446).

O magnífico discurso do papa Francisco dirigido no último dia das jornadas, as conclusões apresentadas pelos jovens e algumas outras considerações pertinentes, exigem que continue.

A força revolucionária dos jovens, no melhor sentido, é a grande esperança de que é possível uma mudança de paradigma económico e de vida pessoal, social e comunitária.

P. Carlos Nuno Vaz, ASSASBraga

2 thoughts on “A economia de Francisco

  1. Obrigado pela partilha.
    Sobre a economia, que humanize, que preserve a casa comum, recordo a “Economia de partilha” de Chiara Lubic. 1/3 do rendimento reinvestido na unidade produtiva, 1/3 distribuído por todos os que contribuíram no processo produtivo, 1/3 distribuído pela comunidade. Uma atividade sustentável que não esterilize o meio e aumente a vontade e a capacidade de partilha pelos que têm menos.
    Luís V.

  2. Assisti a todas as conferências, os jovens do mendo estão de parabéns, deixaram muitas pistas para reflexão e por em prática, gostei imenso do prémio noble, o de Bangladesh, o microcrédito… e sobretudo, questionar o bancos como utilizam o nosso dinheiro. É importante.

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