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Quinta-feira, Dezembro 26, 2024

[:pt]DISCORRENDO SOBRE A FÉ QUE NOS MOVE – Parte II[:]

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Após o almoço reconfortante para o corpo, mas também para o espírito que sem ele dificilmente ficaria aberto para o resto do dia, os trabalhos da tarde do dia 24 começaram reflectindo sobre o tema – Pela Palavra, “O Pai que está nos céus vem amorosamente ao encontro dos Seus filhos, a conversar com eles”, com D. Manuel Pelino, bispo emérito de Santarém, abordando um tema que, segundo o próprio, lhe é muito caro.

Começou afirmando que se chega à Fé pelo encontro, um encontro que está a ser muito procurado pelo mundo laico, designadamente em França e no norte de Itália, onde têm surgido muitos grupos a meditar a bíblia, mas questionou logo de seguida: Porque se afastam os jovens? Porque seguem com desânimo por não encontrarem o que procuram, o mesmo desânimo que os discípulos de Emaús revelavam por terem encontrado o túmulo vazio. Mas enquanto caminhavam foram-lhe abertos os caminhos.

E revisitou algo que já havia sido objecto de reflexão pela manhã: O silêncio, o silêncio que muitas vezes é referido pelos jovens participantes em encontros, que o que mais apreciaram não foram as palavras mas sim o silêncio, a voz do silêncio.

Não é pela interpretação exegética que se aporta à Fé, mas pelo encontro com Deus e elencou sete situações susceptíveis de abrirem os caminhos da Fé: – Pelo encontro, mas é necessário descobrir os recursos de que dispomos para o alcançar, sendo notório que toda a gente anseia luz e verdade, citando a seguir Santo Agostinho: “Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim, e eu, lá fora, a procurar-Vos…”; – Deus à nossa procura – O filho do homem veio procurar os que andam afastados, ou marginalizados ou nas periferias; – Colocar a Sagrada Escritura como lugar de encontro;Conversão à bíblia no Concílio Vaticano II – através da sua Constituição “Dei Verbum”, que escuta para transmitir e proclama a Palavra de Deus, em contraponto à situação anterior em que a Igreja apenas sabia; – Da letra escrita à palavra viva – A Bíblia tem passagens difíceis de entender, cuja chave de leitura emana dos Evangelhos, sendo um instrumento que nos leva ao encontro com Deus; – A Sagrada Escritura na vida da Igreja – Da exegese à vida, fazendo da Escritura a alma da Igreja e da catequese; – Leitura meditada e orante da Sagrada Escritura – Não é um hábito entre nós, mas há já por esse mundo fora grupos a procurar a “Lectio Divina” e citou a seguir a Exortação Pós Sinodal “Verbum Domini”, do papa Bento XVI, afirmando que é através da leitura atenta que ajuda a descobrir o contexto e a actualidade, da meditação, da oração e da contemplação que se tem vindo a perder e importa recuperar.

E assim se aproximou um tempo de intervalo que foi reatado por um painel que se debruçaria sobre “A palavra anunciada e testemunhada pelas comunidades cristãs”, moderado pelo dr. Paulo Rocha, director da Agência Ecclesia, que concedeu a palavra à ir. Isolinda Tavares de Almeida, que abordaria o tema pelo lado dos católicos e começou por afirmar que a Igreja nem sempre foi activa na afirmação da Fé, mas é bom que se diga que os grandes problemas e o anúncio da palavra foram sempre prioridade na Igreja. A fé é fruto do encontro entre a inefável graça de Deus e a liberdade humana, a que se junta o contributo das ciências humanas, os documentos da Igreja, que tem ajustado a sua doutrina à evolução dos tempos. Sob o seu ponto de vista, atinge-se a Fé pela família cristã, pelos movimentos eclesiais, pela escola, pela liturgia da Palavra e pela caridade.

Afirmou a seguir várias etapas para alcançar a fé: – Pelo catecismo que é insubstituível na comunicação da fé e porta de acesso à experiência da vida cristã. Não interessa o fazer o catecismo interessa o ser (papa Francisco); Pela formação, que sempre foi preocupação da Igreja formar os catequistas pelo lado espiritual, pelo lado do ser e do saber fazer; – Pela fidelidade à palavra; – Pelo anúncio que vá directo ao coração, citando Isaías “Não temas, eu te resgatei e te chamei pelo teu nome, tu és meu”. De facto, Deus chama com a ternura de um pai, chama porque ama e olha cada indivíduo; – Pela formação cristã dos adultos que precisam de uma nova síntese de fé que os ajude a caminhar. A formação dos adultos torna-se essencial porque a fé recebida em criança tem que ser consolidada e o catecismo educa nesse sentido.

Para terminar a sua intervenção debruçou-se sobre “A catequese da infância e da adolescência” referindo que existe um plano nacional, com duas fases distintas, para crianças e adolescentes dos seis aos dezasseis anos, escalado por várias etapas, cujos conteúdos visam um conhecimento básico da bíblia, a formação e a vivência dos sacramentos, os mandamentos e as bem-aventuranças e a oração do Pai Nosso. Existe uma orientação cristocêntrica centrada no querigma, isto é, no conteúdo mais importante da mensagem cristã. Mas também uma catequese mistagógica que ensina o significado de cada símbolo litúrgico, gestos e sacramentos. Finalmente, busca-se na catequese uma pedagogia, um método, que seja activo, indutivo e facilitador ao serviço da comunicação da Fé e do contacto com Deus.

Pelo lado das comunidades ortodoxas e católicas de rito oriental, o Pe Sílvio Litvinczuk, abordou o mesmo tema afirmando que a igreja é única, embora tenha comunidades diversas, como as tinha nos primeiros tempos do cristianismo. Não existe uma Igreja oriental, mas diversas, somando vinte e três nas tradições orientais, sendo que duas delas sempre foram católicas. As igrejas ortodoxas não aceitam nem o dogma da Imaculada Conceição nem o da infalibilidade do papa. Nessa comunidade não existe um pensamento, mas sim vários. Da primeira comunidade cristã em Jerusalém emergiram várias sensibilidades, várias tradições cristãs, bizantina e outras, várias fórmulas teológicas, mas que se completam. Transmitem a fé cristã em idênticos moldes, mas de acordo com a tradição de cada uma. São igrejas de base comum, mas diferentes, diferenças que até levaram ao cisma de 1054. Aceitam os sete concílios ecuménicos.

Defendeu que o que é importante é o “rito” e não o território. Para eles, a base de toda a formação cristã está na família (familiares e padrinhos), a par das missões e retiros espirituais, mas os métodos são diferentes dos ocidentais, sobretudo pela diversidade de tradições. Seguem o Evangelho na totalidade.

Para finalizar o ciclo de conferências do dia foi a vez do dr. Timóteo Cavaco, pelo lado das Igrejas Reformadas, no caso pelo lado da Igreja Evangélica Baptista, que começou por afirmar que na diversidade temos construído coisas comuns. O cristianismo é muito diverso, mas não é do conflito que vivemos, pois nada põe em causa a nossa fé comum. No último século houve mais práticas comuns e aproximações. O protestantismo dá expressão à palavra, mas também à teologia e ao dogma. Há várias formas de expressão cristã nos templos ou, diríamos até em salas de espectáculo e pergunta-se como falar nesta diversidade? Para os fiéis das igrejas reformadas aplicam-se vários termos, protestante, reformado ou evangélico, de clarificação semântica quase insolúvel.

O protestantismo nasceu em diversidade que alguns apenas atribuem a Calvino e Zuínglio, sendo estes associados, a partir do século XVIII, ao Puritanismo. Não é fácil estabelecer uma caracterização histórica a cada um dos termos, devendo entender-se como sinónimos, mas não aceita ver sistematicamente a comunicação social tratar de protestantes aqueles que se manifestam em protesto.

“Sola Scriptura” é o que une os protestantes, donde provém a autoridade espiritual (nunca dividiu), mas também a autoridade material. Na reforma não se pretendeu substituir as autoridades existentes por outras equivalentes, procurou-se, isso sim, atingir a vontade especial de Deus de tocar o ser humano. A autoridade reside na palavra, tendo essa palavra como ponto de partida a Boa Teologia, a Teologia da Cruz, embora nem todos os cristãos reformados tenham essa visão. Para entender a palavra é preciso estudar as línguas e as artes liberais.

Na Tradição Reformada, a bíblia é a regra suprema, que está no centro da igreja e na vida dos fiéis, mas também os serviços religiosos, sendo obrigação dos fiéis ler diariamente a bíblia. Na Tradição Evangélica o papel central está na vida das comunidades e das pessoas, que devem levar a bíblia para a igreja, sendo que várias organizações têm surgido para o estudo das Escrituras fora do contexto eclesial, de onde têm resultado leituras mais liberalistas com interpretação muito particular. Na Tradição Pentecostal a bíblia é a fonte máxima de autoridade mas também da prática religiosa, tendo o Espírito Santo como agente da palavra divina, dando mais ênfase à fé do indivíduo, não comunitária, donde resulta um Deus pessoal, atendendo às necessidades específicas de cada um.

Nas comunidades evangélicas a catequese não existe nos moldes ministrados pela Igreja Católica. Utilizam o termo “Escola Dominical”, mas com finalidade educacional. A fé transmite-se no contexto da família e nos cultos. Não existe eucaristia nos moldes católicos, mas sim a ceia, estando a consubstanciação próxima do conceito católico, embora os calvinistas defendam que não está ali materialmente o corpo e o sangue de Cristo, embora Cristo esteja presente, sendo que Zuínglio entende que a presença é apenas simbólica. A pregação está na parte central do culto evangélico cuja duração oscila entre os trinta e os sessenta minutos.

Terminou assim o ciclo de conferências do dia, que não a jornada, pois os participantes, desta feita na Capela da casa Domus Carmeli, seriam ainda brindados com o recolhimento que a música confere a quem a escuta, sobretudo se for debitada “com arte e com alma” como o souberam fazer os elementos do grupo coral Cantabo, dirigido pelo Pe Artur Oliveira. Que maravilha!

Américo Lino Vinhais
Gabinete de Comunicação

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One thought on “[:pt]DISCORRENDO SOBRE A FÉ QUE NOS MOVE – Parte II[:]

  1. Excelente trabalho do Gabinete de Comunicação da UASP, nomeadamente do Américo Vinhais. Para os participantes aqui está o reencontro com a sessão ecuménica da tarde. Para os que não participaram no FÓRUM também, à distância, podem beneficiar da leitura de um texto claro e precioso. Mas, certamente, não vão deliciar-se, como nós, com a actuação do grupo coral CANTABO.

    Saudações franciscanas de Paz e Bem

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