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Após o almoço reconfortante para o corpo, mas também para o espírito que sem ele dificilmente ficaria aberto para o resto do dia, os trabalhos da tarde do dia 24 começaram reflectindo sobre o tema – Pela Palavra, “O Pai que está nos céus vem amorosamente ao encontro dos Seus filhos, a conversar com eles”, com D. Manuel Pelino, bispo emérito de Santarém, abordando um tema que, segundo o próprio, lhe é muito caro.
Começou afirmando que se chega à Fé pelo encontro, um encontro que está a ser muito procurado pelo mundo laico, designadamente em França e no norte de Itália, onde têm surgido muitos grupos a meditar a bíblia, mas questionou logo de seguida: Porque se afastam os jovens? Porque seguem com desânimo por não encontrarem o que procuram, o mesmo desânimo que os discípulos de Emaús revelavam por terem encontrado o túmulo vazio. Mas enquanto caminhavam foram-lhe abertos os caminhos.
E revisitou algo que já havia sido objecto de reflexão pela manhã: O silêncio, o silêncio que muitas vezes é referido pelos jovens participantes em encontros, que o que mais apreciaram não foram as palavras mas sim o silêncio, a voz do silêncio.
Não é pela interpretação exegética que se aporta à Fé, mas pelo encontro com Deus e elencou sete situações susceptíveis de abrirem os caminhos da Fé: – Pelo encontro, mas é necessário descobrir os recursos de que dispomos para o alcançar, sendo notório que toda a gente anseia luz e verdade, citando a seguir Santo Agostinho: “Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim, e eu, lá fora, a procurar-Vos…”; – Deus à nossa procura – O filho do homem veio procurar os que andam afastados, ou marginalizados ou nas periferias; – Colocar a Sagrada Escritura como lugar de encontro; – Conversão à bíblia no Concílio Vaticano II – através da sua Constituição “Dei Verbum”, que escuta para transmitir e proclama a Palavra de Deus, em contraponto à situação anterior em que a Igreja apenas sabia; – Da letra escrita à palavra viva – A Bíblia tem passagens difíceis de entender, cuja chave de leitura emana dos Evangelhos, sendo um instrumento que nos leva ao encontro com Deus; – A Sagrada Escritura na vida da Igreja – Da exegese à vida, fazendo da Escritura a alma da Igreja e da catequese; – Leitura meditada e orante da Sagrada Escritura – Não é um hábito entre nós, mas há já por esse mundo fora grupos a procurar a “Lectio Divina” e citou a seguir a Exortação Pós Sinodal “Verbum Domini”, do papa Bento XVI, afirmando que é através da leitura atenta que ajuda a descobrir o contexto e a actualidade, da meditação, da oração e da contemplação que se tem vindo a perder e importa recuperar.
E assim se aproximou um tempo de intervalo que foi reatado por um painel que se debruçaria sobre “A palavra anunciada e testemunhada pelas comunidades cristãs”, moderado pelo dr. Paulo Rocha, director da Agência Ecclesia, que concedeu a palavra à ir. Isolinda Tavares de Almeida, que abordaria o tema pelo lado dos católicos e começou por afirmar que a Igreja nem sempre foi activa na afirmação da Fé, mas é bom que se diga que os grandes problemas e o anúncio da palavra foram sempre prioridade na Igreja. A fé é fruto do encontro entre a inefável graça de Deus e a liberdade humana, a que se junta o contributo das ciências humanas, os documentos da Igreja, que tem ajustado a sua doutrina à evolução dos tempos. Sob o seu ponto de vista, atinge-se a Fé pela família cristã, pelos movimentos eclesiais, pela escola, pela liturgia da Palavra e pela caridade.
Afirmou a seguir várias etapas para alcançar a fé: – Pelo catecismo que é insubstituível na comunicação da fé e porta de acesso à experiência da vida cristã. Não interessa o fazer o catecismo interessa o ser (papa Francisco); Pela formação, que sempre foi preocupação da Igreja formar os catequistas pelo lado espiritual, pelo lado do ser e do saber fazer; – Pela fidelidade à palavra; – Pelo anúncio que vá directo ao coração, citando Isaías “Não temas, eu te resgatei e te chamei pelo teu nome, tu és meu”. De facto, Deus chama com a ternura de um pai, chama porque ama e olha cada indivíduo; – Pela formação cristã dos adultos que precisam de uma nova síntese de fé que os ajude a caminhar. A formação dos adultos torna-se essencial porque a fé recebida em criança tem que ser consolidada e o catecismo educa nesse sentido.
Para terminar a sua intervenção debruçou-se sobre “A catequese da infância e da adolescência” referindo que existe um plano nacional, com duas fases distintas, para crianças e adolescentes dos seis aos dezasseis anos, escalado por várias etapas, cujos conteúdos visam um conhecimento básico da bíblia, a formação e a vivência dos sacramentos, os mandamentos e as bem-aventuranças e a oração do Pai Nosso. Existe uma orientação cristocêntrica centrada no querigma, isto é, no conteúdo mais importante da mensagem cristã. Mas também uma catequese mistagógica que ensina o significado de cada símbolo litúrgico, gestos e sacramentos. Finalmente, busca-se na catequese uma pedagogia, um método, que seja activo, indutivo e facilitador ao serviço da comunicação da Fé e do contacto com Deus.
Pelo lado das comunidades ortodoxas e católicas de rito oriental, o Pe Sílvio Litvinczuk, abordou o mesmo tema afirmando que a igreja é única, embora tenha comunidades diversas, como as tinha nos primeiros tempos do cristianismo. Não existe uma Igreja oriental, mas diversas, somando vinte e três nas tradições orientais, sendo que duas delas sempre foram católicas. As igrejas ortodoxas não aceitam nem o dogma da Imaculada Conceição nem o da infalibilidade do papa. Nessa comunidade não existe um pensamento, mas sim vários. Da primeira comunidade cristã em Jerusalém emergiram várias sensibilidades, várias tradições cristãs, bizantina e outras, várias fórmulas teológicas, mas que se completam. Transmitem a fé cristã em idênticos moldes, mas de acordo com a tradição de cada uma. São igrejas de base comum, mas diferentes, diferenças que até levaram ao cisma de 1054. Aceitam os sete concílios ecuménicos.
Defendeu que o que é importante é o “rito” e não o território. Para eles, a base de toda a formação cristã está na família (familiares e padrinhos), a par das missões e retiros espirituais, mas os métodos são diferentes dos ocidentais, sobretudo pela diversidade de tradições. Seguem o Evangelho na totalidade.
Para finalizar o ciclo de conferências do dia foi a vez do dr. Timóteo Cavaco, pelo lado das Igrejas Reformadas, no caso pelo lado da Igreja Evangélica Baptista, que começou por afirmar que na diversidade temos construído coisas comuns. O cristianismo é muito diverso, mas não é do conflito que vivemos, pois nada põe em causa a nossa fé comum. No último século houve mais práticas comuns e aproximações. O protestantismo dá expressão à palavra, mas também à teologia e ao dogma. Há várias formas de expressão cristã nos templos ou, diríamos até em salas de espectáculo e pergunta-se como falar nesta diversidade? Para os fiéis das igrejas reformadas aplicam-se vários termos, protestante, reformado ou evangélico, de clarificação semântica quase insolúvel.
O protestantismo nasceu em diversidade que alguns apenas atribuem a Calvino e Zuínglio, sendo estes associados, a partir do século XVIII, ao Puritanismo. Não é fácil estabelecer uma caracterização histórica a cada um dos termos, devendo entender-se como sinónimos, mas não aceita ver sistematicamente a comunicação social tratar de protestantes aqueles que se manifestam em protesto.
“Sola Scriptura” é o que une os protestantes, donde provém a autoridade espiritual (nunca dividiu), mas também a autoridade material. Na reforma não se pretendeu substituir as autoridades existentes por outras equivalentes, procurou-se, isso sim, atingir a vontade especial de Deus de tocar o ser humano. A autoridade reside na palavra, tendo essa palavra como ponto de partida a Boa Teologia, a Teologia da Cruz, embora nem todos os cristãos reformados tenham essa visão. Para entender a palavra é preciso estudar as línguas e as artes liberais.
Na Tradição Reformada, a bíblia é a regra suprema, que está no centro da igreja e na vida dos fiéis, mas também os serviços religiosos, sendo obrigação dos fiéis ler diariamente a bíblia. Na Tradição Evangélica o papel central está na vida das comunidades e das pessoas, que devem levar a bíblia para a igreja, sendo que várias organizações têm surgido para o estudo das Escrituras fora do contexto eclesial, de onde têm resultado leituras mais liberalistas com interpretação muito particular. Na Tradição Pentecostal a bíblia é a fonte máxima de autoridade mas também da prática religiosa, tendo o Espírito Santo como agente da palavra divina, dando mais ênfase à fé do indivíduo, não comunitária, donde resulta um Deus pessoal, atendendo às necessidades específicas de cada um.
Nas comunidades evangélicas a catequese não existe nos moldes ministrados pela Igreja Católica. Utilizam o termo “Escola Dominical”, mas com finalidade educacional. A fé transmite-se no contexto da família e nos cultos. Não existe eucaristia nos moldes católicos, mas sim a ceia, estando a consubstanciação próxima do conceito católico, embora os calvinistas defendam que não está ali materialmente o corpo e o sangue de Cristo, embora Cristo esteja presente, sendo que Zuínglio entende que a presença é apenas simbólica. A pregação está na parte central do culto evangélico cuja duração oscila entre os trinta e os sessenta minutos.
Terminou assim o ciclo de conferências do dia, que não a jornada, pois os participantes, desta feita na Capela da casa Domus Carmeli, seriam ainda brindados com o recolhimento que a música confere a quem a escuta, sobretudo se for debitada “com arte e com alma” como o souberam fazer os elementos do grupo coral Cantabo, dirigido pelo Pe Artur Oliveira. Que maravilha!
Américo Lino Vinhais
Gabinete de Comunicação
Excelente trabalho do Gabinete de Comunicação da UASP, nomeadamente do Américo Vinhais. Para os participantes aqui está o reencontro com a sessão ecuménica da tarde. Para os que não participaram no FÓRUM também, à distância, podem beneficiar da leitura de um texto claro e precioso. Mas, certamente, não vão deliciar-se, como nós, com a actuação do grupo coral CANTABO.
Saudações franciscanas de Paz e Bem