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As incidências da manhã do passado sábado, dia aprazado para a assembleia-geral de primavera da UASP, fizeram-me recuar no tempo umas boas seis décadas, não só pelo dia invernoso, mas também por um dos elementos hoje pouco valorizados nalguns círculos, que é a pontualidade.
Recordo aquela noite em que os meus pais não fecharam a taberna que exploravam às nove em ponto, como mandava a lei, a menos que fosse paga uma taxa adicional, caso em que o horário era extensível até às dez da noite. De fato, um tudo-nada depois das nove irrompe a GNR para tomar conta da ocorrência e levantar o respetivo auto de notícia, mesmo sem cuidar de saber qual dos relógios estaria certo, se o velho despertador que ainda possuo como herança se o deles. Tolerância zero!
Esta lição ficou-me na memória e, de quando em vez, chegam-nos lições adicionais de reforço do conceito de pontualidade materializado por exemplo por Santa Teresa d’Ávila que, depois do toque da campainha nem sequer o ponto do i colocava, ou da Madre Teresa de Calcutá que, mesmo que a colher de sopa estivesse já a caminho do destino, a boca do pobre, ficava a meio, o que lhe valeu algumas críticas.
Não obstante estas lições de vida ontem, por várias razões, não consegui chegar à hora marcada. Nestas situações tendemos sempre a tentar colocar a culpa em terceiros ou fatores externos para justificar os comportamentos ou posturas que não foram considerados satisfatórios. Escondemo-nos atrás dos muros criados pela própria mente para nos defendermos das frustrações, ainda que inconscientemente. Mas não é seguramente o caso.
Saí dez minutos depois do previsto, por razões que me dispenso de revelar mas, em condições normais, mais que suficientes para cumprir o objetivo não fora a confiança no GPS que me levou por caminhos de terra batida, com buracos e poças de água enormes, em que a circulação não poderia ser feita a mais de dez à hora, já nas imediações do convento de destino. Não fora o fato de a voz que comandava o sistema de navegação ser uma cristalina voz feminina que normalmente me guia pelas estradas, diria eu que era o antigo aluno carmelita que empresta a voz masculina ao sistema de navegação que utilizo, que me estava, propositadamente, a levar por maus caminhos…
Mas chegamos a tempo do início da assembleia destinada a apreciar o relatório e contas da associação que mereceram aprovação por unanimidade, mas também para atualizar o plano de atividades para o ano em curso e até para o ano que vem.
Ficou-se a saber que, por dificuldades que a interioridade impõe, não será possível levar a cabo as jornadas culturais deste ano em terras de Castelo Branco e Portalegre, uma vez que os antigos alunos daquelas lonjuras procuraram destinos menos agrestes e com melhores oportunidades de emprego que escasseiam por aquelas bandas. Na sua maioria, para locais menos inóspitos quanto à rudeza do trabalho do campo e de climas mais suaves.
Decidiu-se ali que a alternativa, para este ano, além dos aspetos lúdicos e culturais, seria a Região Autónoma da Madeira, que passaria ainda a ser uma das etapas, neste caso, a IVª do projeto “Por Mares Dantes Navegados” estando já em curso diligências para afinação de calendário dentro do próximo mês de Setembro e que oportunamente será divulgado.
Deu-se enfoque também à Vª etapa do aludido projeto, que terá como palco terras de Angola, a Angola profunda, junto da missão do Sumbe, o que não significa que não haverá um tempo para descontração, que haverá nos últimos quatro dos doze dias previstos para a etapa e decorrerá em dois turnos: o primeiro em Janeiro de 2019 e o segundo em Julho seguinte.
Seria bom que os interessados começassem desde já a ponderar a sua participação porque a decisão deverá ser comunicada com cerca de quatro meses de antecedência relativamente a cada um dos grupos previstos.
Nestas coisas, além da logística, interessa saber também o custo previsto. Contudo ainda nem uma nem outro estão completamente definidos, apontando-se para um custo estimado de € 1.700€ a 1.800€.
Como habitualmente nestes projetos importa levar, além da parte espiritual, alguns bens materiais, cuja forma de angariação, entre outras, passará pela organização de alguns concertos musicais.
Moldaram-se também algumas arestas quanto ao Fórum “O acesso à experiência da fé, hoje”, que decorrerá nos dias 24 e 25 de Novembro, em Fátima, designadamente quanto aos convidados que hão-de dissertar e prestar testemunho da sua fé.
Tudo isto decorreu em ambiente circunstancial pouco filosófico, mas bastante pragmático, já que se discutiram temas essencialmente bem materiais numa ampla sala, que em tempos foi camarata dos “grandes”, com esplendorosas vistas sobre a cidade de Braga, literalmente a seus pés, mas também do Bom Jesus, do Sameiro e até das árvores que escondem o antigo Seminário Missionário Carmelita. Essa sala constitui hoje uma forma de homenagem ao grande filósofo e beato franciscano João Duns Côto, de acordo com a grafia ínsita na placa à entrada da sala e não como vulgarmente é conhecido, já que em muitos escritos aparece como Escoto, e que, dada a sua origem escocesa, lhe assentaria bem Scot, como nalguns círculos é conhecido.
O convento de belas linhas arquitetónicas, não faz lembrar a austeridade de tantos outros conventos de frades, estando hoje de portas abertas à comunidade.
Foi inicialmente propriedade dos Jesuítas que ali construíram a sua casa de formação em 1562, que depois da sua expulsão do reino, foi adquirida pelo pai do Visconde de Montariol, tendo permanecido propriedade privada até 1890, ano em que foi adquirida pelos franciscanos em hasta pública, tendo sido objeto, de então para cá, de variados melhoramentos até ao resultado de hoje, que consideramos magnífico e imponente, visível a grande distância.
Pena foi o tempo não nos ter permitido uma visita mais circunstanciada do local, mas deu para constatar a grande beleza para conforto do espírito, mas também para conhecer e adquirir as poções ali fabricadas através da combinação de ervas, para muitos milagrosas para maleitas corporais, que não milagreiras.
Américo Vinhais
Gabinete de Comunicação
Perante tão erudita narração, não tenho palavras!
ABRAÇO com muito AMIZADE
Parabéns ao artista na arte de bem escrever, sobretudo quando as palavras, com grande sentido poético, lembram tempos em que,calcorreando por caminhos e veredas, atingíamos o alto da colina para aí beber ensinamentos que perduram e nos permitiram construir uma sociedade mais fraterna. Aí aprendemos os princípios de cristão e, pela primeira vez, sentimos a força e o vigor da fraternidade que entre aqueles muros era vivida.
Conseguir chegar ao sopé daqueles degraus, que nos conduziam ao Convento, era alento para as agruras da caminhada iniciada nas frondosas margens do Cávado que, lá longe, serpenteava por entre montanhas e vales regando as ricas planícies, fonte de alimento à gente que nelas labuta.
Um abraço Fraterno
Caros colegas, muito obrigado pela partilha.
Saudações leirienses
Luís Vieira
Olá, caros amigos, saudações franciscanas…
…..Confesso que esperei com forte expectativa por esta crónica do Américo Vinhais. Sempre nos deliciou com a bela prosa. Mesmo com toda a humildade franciscana estou “roído” de ciúmes por um antigo aluno carmelita escrever tão bem esta história da “nossa Casa Franciscana”! Bem, lá chegará o tempo em que eu possa tentar escrever, também, sobre a família Carmelita….
Um companheiro meu da direcção já elaborou um bom comentário. Agora, vou aconselhar os antigos alunos franciscanos a lerem a crónica do Américo Vinhais.
Foi com simplicidade, mas com imensa alegria, como é próprio dos franciscanos, que acolhemos esta Assembleia Geral. Os nossos agradecimentos à comunidade conventual de Montariol, particularmente ao seu Guardião, Frei Daniel Teixeira…
Abraço de Paz e Bem
Alfredo
Agradeço muito a sua expectativa, mas faltou agradecer a hospitalidade dos anfitriões, que foi magnífica, do que me penitencio. A crónica foi feita bastante à pressa, porque nos dias posteriores iria ter uma agenda bem apertada e daí a falha, já que não me queria atrasar na publicação. Aqui fica a correção e, mais uma vez, obrigado.
Um abraço.
A.Lino Vinhais
Gostei de, finalmente, ter conhecido o famoso Convento de Montariol de que tanto ouvira falar. É, de facto, um monumental edifício, de soberba localização. Até quando conseguirão os Franciscanos conservar uma casa daquelas? Deus queira que por muitos anos ainda, nos trabalhos da vinha do Senhor. Espero voltar lá, em clima mais ameno, para poder apreciar e fruir da mata que dizem ser muito bonita. Um muito obrigado à Comunidade Franciscana e à respectiva Associação dos Antigos Alunos pelo acolhimento que nos foi dispensado.
O meu grande abraço de amizade em nome da Associação dos Antigos Alunos Combonianos.
António Pinheiro
Grande Américo Lino Vinhais o meu grande apreço pela demonstração do cuidado, ilustração e disciplina com que descreve as vivências do nosso passado, e como algumas delas se relacionam inequivocamente com o presente.
Parabéns não só pelo discernimento como pelos reflexos culturais que revela.
Ramiro Gomes