[:pt]
Passou uma semana sobre a viagem à Guiné-Bissau e da memória não se me apagam aqueles rostos de gente boa, acolhedora, fraterna! Era este o nosso cais de desembarque e a razão de ser da nossa viagem…
Com pouco mais de milhão e meio de habitantes em um terço, comparativamente falando, do território português; várias etnias (fulas, balantas, bijagós, manjacos…) e descendentes mestiços de origem portuguesa e africana; cada etnia com a sua língua, e uma forma de comunicação entre elas – o crioulo – baseado no português, mas este falado apenas por 14% da população; uma tradição religiosa ancestral (animismo), seguida por mais de 40% dos habitantes, o islamismo a chegar perto destes valores e os católicos, entre os 12 a 15%…, eis a Guiné-Bissau à espera de uma oportunidade! Um Povo a sofrer por erros do passado, refém dos interesses instalados, com o futuro adiado, mas não desesperado!
Não sei se é algo que nós esquecemos, de tão zangados que andamos com a vida – pois os problemas e dificuldades com que aquelas gentes se debatem, só visto e sentido, porque contado não se entende bem e explicado se complica mais –, o certo é que uma experiência assim dá para relativizar muita coisa nossa e discernir, com quem mais precisa, o essencial que nos abre portas para um futuro diferente, aqui e lá…
Na ilha de Orango, um dos representantes das comunidades locais, que é também responsável pela comunidade católica, dizia-nos: “nós aqui somos pobres em tudo, mas ricos na fé”! E no seu rosto – para meu espanto –, não havia queixa, desânimo ou acusação, tão só a determinação e a ousadia de sonhar e querer, para si e para os seus, um futuro melhor! Talvez a demora seja só o tempo necessário para enraizar mais a esperança e dar consistência e lucidez às suas mais que legítimas aspirações! Quero crer. E eu ia…, vou rezando para que Deus antecipe essa hora!…
A fé, assim partilhada e celebrada com entusiasmo desconcertante para cinzentos europeus, fez-nos sentir mais profundamente a consciência da nossa radical igualdade em humanidade, que se transforma em princípio operativo na construção da fraternidade universal; o muito que recebemos no encontro e diálogos travados ao visitar instituições e projectos que estão na linha da frente do serviço a este Povo em áreas estruturantes como a saúde e a educação, falam-nos da sua riqueza humana e espiritual – considerado um dos países mais pobres do Mundo –, e também da solidariedade operante de muitos cooperantes internacionais; o que vimos e ouvimos fez-nos sentir pequenos perante tantas carências, e perceber que há muito caminho a percorrer, mesmo por aqueles que dizem querer ajudar…
P. Armindo Janeiro
Uma fotografia descritiva duma peregrinação a terras de Além-Mar. Gostei.
Como gostei de ler este belo texto do Pe. Armindo Janeiro! É que eu tive o privilégio e a graça de Deus de integrar este grupo de 19 enviados, “por mares dantes navegados,” às periferias existenciais de que tanto nos fala o Papa Francisco e exorta a percorrer solidária e fraternalmente…
Também já partilhei com os antigos alunos franciscanos, através da rede social da nossa Associação, o meu pequeno testemunho, vivido naquele chão e percorrido, tantas vezes, por missionários portugueses, alguns do meu curso de seminário a quem estou grato….
……..Abraço amigo e fraterno
Alfredo