Naquele lugar desconhecido, entre o Minho e Trás-os-Montes, com a chegada do Maio florido, o povo celebrava festivamente o “Mês de Maria”. As badaladas do sino, terminadas as lides agrícolas, reunia os fiéis na pequena capela românica. Na ausência do pároco emergia sempre alguém, entre os presentes, que orientava a “reza do terço” e iniciava os tradicionais cânticos marianos.
Passadas tantas décadas, recordo e guardo no coração cada princípio de noite desses “maios” longínquos! Porém, com 11 anos deixei a aldeia para ingressar no Seminário Franciscano e só regressava nas férias do verão. Agora, quase despovoada, fruto da emigração, é mais conhecida, porque ali acabaram de construir, no rio Tâmega, a grande barragem de Daivões. Ainda, hoje, sempre que chega o mês de Maio, o povo de muitos lugares, rurais e urbanos olha Maria com renovado carinho, convidando à oração do terço no aconchego familiar ou na comunidade paroquial.
Maria, filha de Ana e de Joaquim, era uma jovem simples de Nazaré, pequena povoação nas periferias de Israel, então, também desconhecida, mas “sobre ela pousou o olhar do Senhor e foi escolhida para ser Mãe de Jesus Cristo”. Perante o anúncio do Arcanjo Gabriel, “A cheia de Graça”, fica naturalmente admirada ao ver que Deus, para assumir a natureza humana, a escolheu!
Das nossas mães recebemos tudo gratuitamente, também devemos retribuir como fez Maria ao partilhar com a sua prima Isabel o dom da maternidade. Sendo Mãe sempre presente acompanhou o seu querido Filho, tanto nos momentos felizes, como nos dolorosos. Assim procuram ser as nossas mães.
A “Casa da Criança de Guimarães” cuja missão principal é o acolhimento de crianças em risco tem um lema muito bonito: “Toda a criança tem direito a um Colo”. Então, que nos sirva de inspiração para, durante a vida, pedirmos à nossa Mãe do Céu e à da terra que nos abracem e nos acolham no seu colo, como a criança que, para as mães, continuamos a ser….
Soube que a origem do dia da Mãe remonta à antiguidade clássica. Vamos continuar a celebrar essa bonita tradição. Por mim, vou partilhar convosco o poema “Raízes” que escrevi para a minha mãe e para todas as mães que já “adormeceram”.
RAÍZES
Mãe,
deixei de vez o teu peito,
secaram, talvez, as raízes
da vida que me deste.
Procuro-te angustiado
no leito da morte
em busca do milagre desejado
da tua ressurreição!….
Mas, já não oiço o coração
que também é meu…..
O céu chora como eu
à espera que as lágrimas
irriguem as raízes da vida
e amamentem o teu amor eterno!….
Descanso no além o meu olhar sereno
à procura, também,
do teu olhar materno…..
E já não sei, Mãe,
Se morreste ou adormeceste?!….
( 09 de Julho de 2014, dia do falecimento, aos 102 anos)
Alfredo Monteiro
AAAFranciscanos
Parabéns Alfredo, o apelo ao colo de Mãe será sempre a tábua de salvação para as nossas angústias e o grito pelas fragilidades da nossa curta passagem por esta terra sedenta de justiça e paz. Abraço, J Gomes
Bonito poema. Pensamentos simples mas profundos sobre a maior ligação afectiva que a natureza humana produziu- a relação mãe/filho.
Parabéns e obrigado