Em menor ou maior grau, é já conhecido o projecto da UASP (União das Associações dos Antigos Alunos dos Seminários Portugueses) de realizar as suas Jornadas Culturais de 2016 por Terras do Demo, nos próximos dias 9 e 10 de Julho.
Para conhecer melhor o que a organização pretende proporcionar aos participantes e como têm decorrido os preparativos, questionamos o Avantino Beleza que, com toda a clareza, explicou com grande pormenor e conhecimento de causa os principais passos da comitiva.
Mas antes da explicitação do roteiro quisemos saber o que são as Terras do Demo. Explicou-nos o cicerone que Terras do Demo não existem enquanto localidade concreta ou um aglomerado urbano. Mas para melhor as definir nada melhor que citar o autor: “Decerto que eu, ao chamar-lhe Terras do Demo, não quis designá-las por terras do pecado, porque o pecado seja ali mais grado ou revista aspecto especial que não tenha algures. Nada disso. A serra é portuguesa no bem e no mal. Chamei-lhe assim porque a vida ali é dura, pobrinha, castigada pelo meio natural, sobrecarregada pelo fisco mercê de antigos e inconsiderados erros e abusos, porque em poucas terras como esta é sensível o fadário da existência.” Recordou ainda que num dos seus livros Aquilino escreveu “… porque nem Cristo, nem El-rei aqui passaram”.
Prosseguiu dizendo que o primeiro dia pretende dar a conhecer as Terras do Demo e suas gentes, em particular Aquilino Ribeiro, também ele um antigo aluno de um seminário, em concreto de Beja, onde estudou quatro anos e, simultaneamente, conhecer a Lapa, o Santuário de Nossa Senhora da Lapa, em duas vertentes: – A religiosa, realçando que, antes de Fátima, era o maior local de culto da Península Ibérica a Nossa Senhora, um culto que vem de há mais de 500 anos e a cultural, com visita ao conjunto arquitetónico incluindo ao quarto que foi do escritor enquanto interno do colégio do mesmo nome. De realçar que o almoço de sábado, dia 9 de Julho, será nos claustros da Lapa.
No segundo dia abandonam-se as Terras do Demo descendo ao Vale do Varosa, o “Vale Encantado” há muito tido como um forte ponto de atração turística, sendo de referir que os monges cistercienses por ali se fixaram no século XII. Merecerão visita pormenorizada o mosteiro de S. João de Tarouca e o Mosteiro de Santa Maria de Salzedas, ambos classificados pelas entidades oficiais como monumentos nacionais.
Está ainda incluído no roteiro de domingo uma visita à Ponte Medieval Fortificada de Ucanha, taxada ao tempo para a sua travessia e que constitui ainda hoje um mistério para os estudiosos.
Não podemos deixar de referir o final da conversa que girou à volta do que é um escritor: – Se é alguém que escreve livros, muitos livros, mas que ninguém lê ou um indivíduo que, ainda que escrevendo pouco, consegue chegar ao público em geral. Não importam as nossas conclusões sobre a matéria, embora possa ser tema de reflexão para os leitores. No entanto não deixamos de referir que, sob o ponto de vista do entrevistado, que é também o nosso, Aquilino foi um grande escritor, embora por vezes de leitura difícil para quem desconhece a região já que utiliza um vocabulário cheio de provincianismos. Contudo está ali uma forte mensagem quanto àquelas terras e gentes e recordou umas frases de Salazar para um entrevistador: “Comece o seu inquérito por Aquilino. É um inimigo do regime. Dir-lhe-á mal de mim, não importa. É um grande escritor!”
E tanto assim é que Aquilino tem já a devida homenagem como tal, pois seus restos mortais, repousam há muito no Panteão Nacional.
Inscreve-te no evento já que engloba importantes aspetos culturais: artes, letras, paisagísticos e gastronómicos.
Américo Lino Vinhais
Gabinete de Comunicação
CONVENTO DE S. JOÃO DE TAROUCA
[:]